Solicitar um transporte por aplicativo quando se tem pressa para chegar a locais em que os coletivos não circulam ou mesmo evitá-los tarde da noite por questões de segurança são algumas ocasiões para que os passageiros solicitem uma corrida. A Uber anunciou que o destino final da viagem será informado aos motoristas de João Pessoa antes deles aceitarem a viagem, o que já ocorria em aplicativos concorrentes. Se por um lado isso beneficia os profissionais, há, também, clientes que temem a possibilidade de que os cancelamentos sejam mais frequentes.
Até a última semana, a informação só era acessada quando o motorista aceitava a viagem. Com a nova medida, alguns relatos são de desistência quando o trajeto é muito curto e, consequentemente, menos rentável, ou em casos de bairros mais distantes, enquanto outros classificam a medida como “empática”.
Ao Portal Correio, a empresa Uber informou que o modelo adotado no último dia 6 de agosto passou por um tempo considerável de testes, com o objetivo de trazer o mínimo de prejuízo possível aos usuários do aplicativo. Segundo a plataforma, a finalidade é possibilitar transparência aos motoristas, sendo adotada como medida de segurança.
“Ter mais informações sobre a viagem antes de seu início é uma demanda recorrente dos motoristas e nosso objetivo é atender essa solicitação da melhor forma possível e sem impactar a experiência dos usuários”, explicou Fabio Plein, diretor de Operações da Uber no Brasil.
No entanto, a estudante universitária Lívia Fonseca não viu a nova implantação como positiva. “Já acontece de motoristas cancelarem viagens em outros aplicativos quando sabe pra onde você vai, mesmo não sendo um local difícil e inseguro. Então creio que isso aumentará o número de viagens canceladas por puro querer. Se uma viagem for pra perto, por exemplo, ele não vai aceitar. Então vai ficar mais difícil chegar em um destino pontualmente, acredito eu”.
Se por um lado alguns viajantes temem um tempo de espera maior, a possibilidade de visualizar o destino deles e de aceitar a viagem é celebrada pelos parceiros da empresa.
O motorista Victor Araújo, 26, contou que chegou a abandonar o aplicativo pela ausência da medida de segurança. “Eu sou motorista de aplicativo há muito tempo e, após tantas notícias de sequestros, assaltos e até homicídios contra a categoria, eu parei de usar o Uber porque ele não mostrava o destino final do passageiro, enquanto outros aplicativos sim. O morador de uma cidade conhece os pontos mais perigosos e, infelizmente, devido à insegurança, somos obrigados a recusar ir até esses locais por questão de sobrevivência mesmo”.
Victor também ratificou que cancela mais corridas depois que o destino final passou a ser localizado. “Assim que o aplicativo anunciou a medida, eu retornei a usá-lo e agora me sinto mais seguro. A questão é de precaução e defesa. Estou rejeitando mais corridas. Durante o dia vou a qualquer lugar, mas à noite tenho receio. Não é pelo passageiro, é pelo embarque e desembarque. Acho, inclusive, que a medida tardou a ser tomada”.
As usuárias do aplicativo Gabriela Ferraz e Débora Costa veem a medida como positiva e dizem entender o lado do motoristas, classificando até o modelo como “empático”.
“Eu acho que é uma questão de empatia com os motoristas. Não é difícil ligar a televisão e assistir aos vários casos de crime contra eles. Agora tem quem se aproveite da medida, né? E fique escolhendo pra onde vá, mesmo que não seja um destino perigoso. Cabe a nós, passageiros, esperarmos da boa fé deles para que isso não ocorra, e sim como uma medida preventiva e protetiva. Mas em geral, eu concordo com a demanda”, comentou Gabriela.
Débora disse que é necessário ponderar os dois lados. “Acredito que temos que analisar ambos os lados e se colocar no lugar do motorista, que no dia a dia recebe pessoas em seu carro que não conhece. Mas aí entra a questão da necessidade de quem solicita a viagem, seja por uma necessidade ou urgência. O local onde ela reside ou se encontra não pode rotular ou generalizar sua conduta ou intenções. Existem locais, sim, perigosos, pela frequência de assaltos, tráfico de drogas, entre outros. O motorista, dependendo da hora e do lugar que foi solicitado, deve escolher se aceita ou não. Infelizmente, já tive viagens canceladas por morar distante. Mas é necessário ponderar os dois lados”.
Segurança
A nova funcionalidade do aplicativo formalizou uma prática que já vinha sendo adotada pelos profissionais. Depois de diversos casos de violência envolvendo motoristas da Uber, parte dos condutores passou a usar táticas para evitar a exposição a situações insegurança. Uma das mais difundidas, segundo relatos, era a avaliação negativa de quem solicitava viagens para essas áreas.
“A nota diz tudo sobre o passageiro. Se é baixa, ou ele vai te levar para um lugar muito ruim, ou é mal educado. Alguma justificativa tem. Ninguém avalia com uma nota ruim um viajante exemplar”, concluiu o motorista Victor.
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