Pessoas com fobia de pequenos buracos estão dizendo que o design do iPhone 11 Pro da Apple está provocando sua aversão.
No lançamento do aparelho na terça-feira (10), chamou atenção o sistema de câmera traseira com três lentes de alta potência.
As lentes ficam ao lado do microfone que faz “zoom de áudio”.
Centenas de usuários de smartphones afirmam que o novo design provocou sua “tripofobia”, uma aversão à visão de grupos de pequenos buracos.
“A Apple não pensou em nós que temos TRIPOPOBIA ao fabricar o iPhone 11 Pro. Eu não posso comprá-lo, sentiria coceira o tempo todo, sempre que olhasse para ele”, reclamou um usuário.
O termo “tripofobia” foi cunhado pela primeira vez em 2005 no fórum online Reddit e desde então se tornou amplamente comentado nas mídias sociais.
A atriz de American Horror Story, Sarah Paulson, e a modelo Kendall Jenner estão entre as que dizem ter essa condição.
O cientista da visão Dr. Geoff Cole, da Universidade de Essex, fez parte do primeiro estudo científico completo sobre tripofobia, trabalhando com seu colega, o professor Arnold Wilkins.
“Todos nós temos um pouco disso, é apenas uma questão de intensidade”, disse Cole à BBC News.
A reação à visão de pequenos buracos pode ser muito extrema, diz o estudo deles.
O Dr. Cole e o Prof Wilkins relataram testemunhos de algumas pessoas que vomitaram e outras que disseram que não poderiam trabalhar por vários dias.
“Pode ser bastante incapacitante”, acrescentou Wilkins.
Sintomas
A tripofobia não é reconhecida oficialmente, pois não pode ser diagnosticada, mas foi analisada por Cole e seus colegas.
Os cientistas estudaram 286 adultos e descobriram que 16% reagiam com aversão a padrões repetitivos, tendo até reações fisiológicas como o aumento dos batimentos cardíacos. Alguns manifestaram arrepios.
Um dos pacientes disse que as imagens “davam-lhe náuseas e tremores”.
Culpa da evolução?
Arnold Wilkins e Geoff Cole, os pesquisadores que realizaram o estudo, pensam que essas reações podem ser parte de um mecanismo de defesa.
Isso porque há muitos animais potencialmente letais, como aranhas e cobras, que têm marcas similares. A aversão seria uma adaptação evolutiva ligada à preservação individual.
Wilkins e Cole justificam a hipótese com o fato de que um dos entrevistados revelou seu medo do polvo-de-anéis-azuis, animal com um dos venenos mais poderosos do mundo.
Quando ouviram isso, os pesquisadores coletaram várias imagens de alguns dos animais mais tóxicos conhecidos e constataram que elas tinham padrões similares aos que ativam as más sensações nas pessoas que têm tripofobia.
A também britânica Universidade de Kent tem uma outra teoria sobre as reações negativas a grupos de buracos.
Padrões de buracos manifestam-se em doenças e infecções como varíola e sarampo, e quem tem tripofobia poderia fazer associações ao ver objetos cotidianos.
Outra hipótese, também investigada por Arnold J. Wilkins, está ligada à configuração de buracos e manchas – mais especificamente propriedades matemáticas semelhantes às de imagens conhecidas por causar incômodo visual e mesmo dores de cabeça. Isso já foi identificado até mesmo em quem não se identifica como tripofóbico.
Problema matemático?
Essas imagens, segundo o acadêmico, causam ao cérebro dificuldades de processamento, forçando uma maior oxigenação e um maior uso de energia.
Muitas fobias podem ser decorrentes de mecanismos de proteção. O medo de altura, por exemplo, nos protege de quedas perigosas, ao passo que o medo de insetos evitaria potenciais picadas mortais.
Porém, humanos podem desenvolver fobias de qualquer coisa, e a lista só cresce com o maior acesso à internet e às redes sociais. Até o medo de toques de telefone já foi descrito como uma fobia.
Os que argumentam contra a classificação de tripofobia alegam justamente isso: que a condição ganhou fama por meio de discussões online. E que as vítimas são persuadidas pela sugestão de que padrões repetitivos são repulsivos.
g1