A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) criou a primeira diretriz brasileira para diagnóstico e tratamento da cardiomiopatia hipertrófica, principal causa de morte súbita em todo o mundo.
No Brasil, ela atinge cerca de 500 mil brasileiros, mas é sub-diagnosticada por aqui. A SBC resolveu criar a diretriz dada a falta de dados específicos, o que forçava os médicos a utilizar as diretrizes europeia e estadunidense.
O cardiologista Fabio Fernandes, do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo (SP), um dos autores da nova diretriz, disse que “é uma doença mais frequente do que a gente imagina e muito sub-diagnosticada”.
O documento foi elaborado por mais de 70 pesquisadores e estabelece recomendações mais recentes para diagnóstico, estadiamento, tratamento e algoritmos que podem ajudar durante o tratamento e na prevenção à morte súbita, conforme o Estadão.
Já o cardiologista Marcelo Vieira, do Hospital Israelita Albert Einstein, afirmou que “ela [a cardiomiopatia hipertrófica] é muito prevalente, atinge em torno de uma em 200, ou uma em 500 pessoas, e costuma ser diagnosticada em fase avançada”.
Entre as recomendações da nova diretriz, está a importância de avaliação detalhada em atletas e indica, ainda, certos exames para investigação e confirmação do diagnóstico.
O que é a cardiomiopatia hipertrófica, que causa morte súbita
- A cardiomiopatia hipertrófica foi descrita pela primeira vez em 1958 por Robert Teare, patologista britânico;
- Ele avaliou o coração de jovens atletas vítimas de morte súbita;
- A doença é caracterizada pelo aumento da espessura do músculo cardíaco (hipertrofia) com o passar do tempo;
- Na maioria dos casos, ela é causada por defeito genético, fazendo com que o coração passe por estado de hiper-contratilidade e hiper-relaxamento, levando à hiper-trofia do miocárdio;
- Dessa forma, o paciente sofre com sintomas de insuficiência cardíaca: dor no peito, arritmias e, às vezes, obstruções no fluxo sanguíneo;
- A morte súbita por cardiomiopatia hipertrófica se dá quando há ritmo cardíaco anormal, especialmente em momento de grande esforço, como durante atividades físicas.
A condição tem sintomas que podem ser confundidos com outras cardiopatias, o que aumenta o risco de falsos diagnósticos e de morte súbita. Todavia, em incríveis 90% dos casos, não há sintomas.
Mesmo assim, ela pode ser diagnosticada com facilidade por meio de alterações suspeitas visíveis em eletrocardiogramas e exames clínicos, já que causa um sopro (som) característico.
Exames complementares, como o ecocardiograma e a ressonância magnética do coração, podem ajudar a determinar o diagnóstico. Uma vez confirmada a presença da condição, o médico deve analisar as chances de morte súbita do paciente, principalmente se ela tiver menos de 40 anos, quando há mais probabilidade de isso acontecer.
Baseado em dados, como características da doença, sintomas e resposta aos medicamentos, um algoritmo que os especialistas montam auxiliam na conduta a ser utilizada e permite que se saiba quem pode se beneficiar dos vários tratamentos, que passam por medicamentos, cirurgia e até desfibrilador implantável.
Além disso, médicos relatam ser possível a realização de testes genéticos, capazes de auxiliar na identificação de familiares que possuam a doença. Fernandes explicou: “é doença crônica e o objetivo é controlar sintomas e reduzir risco de morte súbita.”
Assim, os médicos reforçam a necessidade de avaliação médica antes de iniciar qualquer atividade física, seja ela de intensidade, ou não.
Por sua vez, Vieira ressaltou ser “fundamental fazer o rastreamento familiar para saber se há casos de morte súbita na família e em que fase da vida da pessoa ela ocorreu”.
Olhar Digital