Popular como o ‘cafezinho’ no Brasil, kefir é segredo de saúde dos russos

Consumido na Rússia com a mesma tradição que o cafezinho é consumido no Brasil, o kefir é considerado o elixir da saúde dos russos. De acordo com o médico Djalma Marques, pesquisador na área de probióticos, o alimento aumenta a imunidade do corpo ao promover o equilíbrio da microbiota, como hoje é chamada a flora intestinal.

O kefir chegou ao Brasil há cerca de 20 anos. Trata-se de um probiótico, substância composta por micro-organismos vivos formados a partir da fermentação de grãos de kefir com leite ou suco de frutas. No caso da fermentação com suco de frutas é chamado de kefir biológico.

É comercializado na forma de suco – na verdade, lembra mais um refrigerante por conter gás produzido pelos próprios micro-organismos – e em cápsulas. Também pode ser “cultivado” artesanalmente em casa, mas o médico ressalta que há risco de contaminação.

Com aroma e consistência semelhante ao de uma coalhada, o alimento é consumido na Rússia como iogurte, segundo Marques. Na Chechênia, onde o médico esteve para pesquisar o kefir, ele é cultivado em sacos de couro de ovelha na porta da casa das pessoas, que servem aos visitantes, por meio de uma torneirinha, como se fosse um “cafezinho”. “É vendido em todo lugar, até em semáforos”, afirma.

O alimento surgiu há mais de 2 mil anos quando pastores que guardavam leite de ovelha em sacos de couro observaram que no fundo se formava uma gosma. Ao ser ingerida, ela fazia bem à saúde. Não só isso: os ajudava a viver mais. Kefir, em turco, significa “sentir-se bem”.

“O corpo humano é feito de um terço de células humanas e dois terços de células bacterianas. Se a microbiota está equilibrada, ou seja, se o intestino funciona, tudo vai bem”, explica Marques.

No organismo, o kefir age repovoando a microbiota com micro-organismos comuns a ela e ainda impedindo a proliferação de bactérias que causam doenças, protegendo contra infecções.

Segundo o médico, os benefícios do kefir não param por aí. O alimento melhora a absorção de alimentos e estimula a produção de vitaminas do complexo B e vitamina K.

Ao longo da história da Rússia, os grãos de kefir já foram disputados como uma joia rara. Na região do Cáucaso, eles eram chamados de “joiás de Alá”. Restritas a tribos muçulmanas, “as joias” eram passadas de uma geração para a outra.

Em torno do ano de 1900, a notícia sobre os grãos milagrosos chegou à Sociedade de Médicos da Rússia que solicitou a substância a uma indústria de laticínios.

Como o proprietário da indústria não sabia fazer o produto, enviou sua empregada como espiã para a região da Chechênia, onde teria se originado o kefir, para seduzir o príncipe muçulmano e roubar os grãos. O príncipe se apaixonou por ela, mas mesmo assim não entregou as “joias de Alá”. Ela então tentou fugir, mas foi sequestrada por ele.

O dono da empresa, que havia enviado a espiã, conseguiu resgatá-la e levou o príncipe à prisão. Como fiança, exigiu como pagamento 4,5 kg de grãos de kefir.

Depois de conseguir o “tesouro”, ele teria distribuído à população de Moscou e assim teria disseminado o alimento no país.

 

R7