Análise: em jogo “divisor de águas”, Botafogo praticamente joga a toalha para ficar na Série A

Não é a imprensa que fala, é Eduardo Barroca quem diz que o jogo contra o Vasco era um divisor de águas para as pretensões do Botafogo no Campeonato Brasileiro. Foi por considerar que a partida era de extrema importância para o futuro do clube que a comissão técnica optou por concentrar os jogadores na sexta-feira para o jogo de domingo. Mas não adiantou. Se o clássico era o que definiria qual divisão o time jogaria na próxima temporada, pode-se dizer que a Série B é a realidade.

Mais uma vez a equipe do Botafogo não apresentou qualquer capacidade de reação no Campeonato Brasileiro. Os jogos contra Internacional e Coritiba criaram uma esperança na torcida de que poderia ser possível a permanência na Série A. Mas para um time que não consegue ficar um jogo sem tomar gol desde 19 de outubro, quando empatou em 0 a 0 com o Goiás e ainda tinha Bruno Lazaroni como técnico, isso é inviável. Em todo o Brasileirão, o time não levou gol só em quatro jogos: empates com Fortaleza, Coritiba e Santos, além do Goiás.

A segunda pior defesa da competição não tem em Barroca o grande culpado. Diante do Vasco, os primeiros 20 minutos até foram de organização quando o time precisava se defender. Sem os atacantes pressionarem a saída de bola do adversário, o Botafogo se mantinha compacto e gerava dificuldade para a infiltração rival.

O primeiro gol saiu em falhas em sequência, principalmente da dupla de zaga. Após o cruzamento em que a bola sobra para Henrique, Kanu – jogador mais regular do Botafogo no ano – se adiantou demais e deixou dois atacantes para Sousa tomar conta. Na indecisão, o garoto ficou entre Cano e Talles Magno, e não chegou a subir com o autor do primeiro gol do jogo.

A partir daí o time voltou a conviver com um problema recorrente: estar atrás no placar. Com isso, todo mundo acha que pode resolver a situação do time com um chute desequilibrado ou sem ângulo, o que evidencia a afobação natural de um clube que está à beira do precipício.

Volto a dizer que não acredito que o problema seja Eduardo Barroca e talvez tenha gente que pare de ler o texto aqui, mas explico. O elenco do Botafogo é claramente desequilibrado. Por mais que tenha contratado 25 jogadores e utilizado 52 na temporada, isso pouco reflete dentro de campo. Ou muito reflete, visto que desde o início do ano o único armador do time é Bruno Nazário.

 

O camisa 10, que jogou bem antes da parada por causa da Covid-19, não voltou a exibir o mesmo futebol dos primeiros meses de 2020 e nunca teve sequer um substituto capaz de realizar a mesma função. Enquanto isso, o Botafogo tem mais de 10 atacantes no elenco que revezam e fazem com que hoje seja impossível o torcedor saber a escalação ideal do clube.

Some isso a cinco técnicos em uma temporada – sendo quatro nos últimos quatro meses (sem contar os interinos) – e é como se seguisse uma cartilha de rebaixamento, além de todos os problemas financeiros. A bagunça interna tem que ser organizada o quanto antes para que o planejamento para os 353 dias restantes do ano sejam menos sofríveis do que foi 2020 e essa primeira quinzena de janeiro. Não necessariamente passa por mudança de treinador ou diretoria, mas sim de mentalidade e atitude.

Em entrevista coletiva depois da partida, Barroca comentou da reunião que vai ter com a diretoria nesta segunda-feira e refletiu sobre a necessidade de começar a pensar em curto, médio e longo prazo. É a partir dessa conversa que o Botafogo já vai começar a planejar o 2021 que vai ter, seja qual for a divisão que ocupe. Caso não haja uma escolha com convicção para o restante do ano, a tendência é que a temporada seja o mesmo sofrimento em que Valentim foi demitido ainda no Estadual, Lazaroni ficou nem um mês no cargo e Ramón Díaz sequer estreou.

Enquanto isso, o Brasileirão segue. Na penúltima colocação com 23 pontos e a nove do primeiro time fora da zona de rebaixamento, o Botafogo começa a pensar na partida contra o Santos. O jogo pela 30ª rodada será no próximo domingo, às 16h (de Brasília), na Vila Belmiro.

 

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