O Ministério da Saúde divulgou, nesta terça-feira (12), um alerta para que estados e municípios intensifiquem as ações de vigilância epidemiológica e vacinação contra a poliomielite.
O documento foi publicado depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmar um caso de paralisia flácida aguda causada pela poliomielite em uma criança venezuelana residente em uma comunidade indígena no estado de Delta Amacuro.
Até a confirmação deste novo caso na Venezuela, o último caso de poliomielite registrado na América Latina tinha sido no Peru, em 1991. No Brasil, o último caso é de 1990.
Segundo a OMS, a criança tem 2 anos e 10 meses e não foi vacinada contra a pólio. Mesmo assim, ela teria sido infectada pelo vírus vacinal.
De acordo com o pediatra Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbin), isto é possível porque existem dois tipos de vacina contra a pólio, a de vírus morto, injetável, e a de vírus vivo inativado — as famosas gotinhas.
Vírus vivo
Em crianças com menos de 1 ano que recebem a vacina com vírus vivo, pode acontecer deste vírus sofrer uma mutação no organismo e se fortalecer, ou seja, recuperar a capacidade de infecção e provocar a doença. É o que deve ter acontecido na Venezuela.
“Uma criança que recebeu a vacina e teve esta mutação encontrou uma criança não vacinada e acabou transmitindo o vírus para ela. Isso pode acontecer quando crianças menores recebem as primeiras doses da vacina com o vírus vivo e não como deveria ser feito, com vírus morto”, explica Kfouri.
Um outro caso na mesma comunidade ainda está sendo investigado. Trata-se de outra criança, de oito anos, que começa a apresentar sinais de paralisia nas pernas. Esta criança tem histórico de vacinação de apenas uma dose — o esquema ideal de vacinação contra a doença prevê que a criança tome três doses e mais dois reforços entre os 2 meses e 5 anos de idade.
Vigilância no Brasil
De acordo com o Ministério da Saúde, “a situação requer atenção por parte da vigilância e imunização do Brasil uma vez que há um grande contingente de venezuelanos com livre acesso ao país e se deslocando para diversas UF, em especial as da Região Norte”.
O mesmo alerta foi feito nesta quarta-feira (13), pela Sociedade Brasileira de Pediatria, por meio de uma nota pública.
No texto, a presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva, diz que é preciso evitar o pânico, mas, ao mesmo tempo, manter a atenção.
“A poliomielite é uma doença que deixou lembranças dolorosas. Foi corrente no Brasil e, graças ao esforço conjunto de todos, foi erradicada. Por isso, é preciso estarmos atentos, vigilantes, para que ameaças externas não comprometam o bem-estar do nosso povo”, destacou, ao pedir empenho dos pediatras na orientação aos pais sobre a relevância de manter as cadernetas de vacinação em dia.
Vacina é fundamental
O pediatra Renato Kfouri, explica que a vacinação é fundamental para que o vírus continue sem circular no país.
“As pessoas não precisam ter medo de vacinar os filhos”, diz o pediatra. “No Brasil, a vacina de vírus vivo é dada apenas em crianças com mais de um ano. Bebês recebem a vacina de vírus morto, que não oferece risco. Nas crianças maiores, que recebem as gotinhas, não existe a possibilidade de acontecer uma mutação do vírus.”
O Brasil promove campanhas de vacinação contra a pólio todos os anos, mesmo assim, a cobertura vacinal do país não chega aos 95% — o que seria ideal.
De acordo com a Sbin, metade dos municípios brasileiros possuem índice de cobertura que está abaixo disso. “Ainda existem muitos bolsões com baixa cobertura e isso é preocupante”, destaca Kfouri.
De acordo com o Ministério da Saúde, a próxima Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite está marcada para acontecer entre os dias 6 e 24 de agosto. Mas, as crianças que ainda não receberam as primeiras doses podem ser levadas a um posto de saúde mesmo fora do período de campanha.
R7