Bruce, o Artista, é uma figuraça. Uma, não: várias. Centenas delas. O paraibano Wytemberg Mariano da Silva, de 47 anos, conquista seguidores e atrai a atenção de famosos com suas imitações de celebridades, artistas, atletas, ícones da história e personagens de ficção. Todas quase sempre acompanhadas de performances hilárias no Instagram e em outras redes sociais. Chamada por ele de “salve”, esse tipo de mensagem é usado pelas pessoas para presentear familiares, amigos e amados. É o que destaca publicação especial do R7.
Do pai da psicanálise, o austríaco Sigmund Freud, e do filósofo prussiano Immanuel Kant, à cantora Juliette e ao boneco Ken, da Barbie, passando por Michael Jackson, Tim Maia, Wandinha, o craque cabeleira Marcelo e todo tipo de figura pública que se possa imaginar, Bruce calcula ter interpretado em torno de 500 personalidades, a maioria nos últimos três anos. E diz que é apenas o começo.
Quarto dos cinco filhos de uma família de Princesa Isabel, cidade do sertão da Paraíba com 25 mil habitantes e distante 439 quilômetros da capital do estado, João Pessoa, Bruce/Wytemberg sonhava, na infância, ser jogador de futebol. Aos 13 anos, descobriu uma nova paixão, as artes marciais, ao ver fotos e textos sobre o ator americano de origem chinesa Bruce Lee.
Passou a se vestir e a imitar o ídolo nas escolas de João Pessoa, para onde se mudou com a família, aos 3 anos. E também a reproduzir os golpes do ator diante da molecada e a exibir seu “Museu Itinerante de Bruce Lee” — no caso, sua coleção de pôsteres, roupas, miniaturas e outras bugigangas relacionadas ao artista americano. Como era de se esperar, o apelido Bruce foi logo carimbado — e carinhosamente adotado.
Bruce/Wytemberg foi conferente de documentos de uma empresa de informática, cabeleireiro e funcionário de uma fábrica de garrafas. No início, incorporava apenas Bruce Lee. Mesmo assim, os amigos começaram a chamar atenção para seu talento nas imitações.
Em um show do Harmonia do Samba em João Pessoa, numa noite de 2000, Wytemberg, devidamente paramentado com as calças e camisas largas de Bruce, despertou a atenção do cantor da banda, Xanddy. “Bruce Lee ressuscitou e veio a um show do Harmonia”, brincou o vocalista ao microfone. A galera veio abaixo.
“Naquele momento resolvi que seria um artista imitador”, conta Bruce nesta conversa com o R7 Entrevista. “Abri para outras personagens, mantive o nome e acrescentei ‘o Artista’”.
Por 23 anos, Bruce ganhou a vida incorporando personagens ilustres em aniversários, festas infantis e no chama-clientela de porta de loja, até que a pandemia interrompeu a atividade. As pessoas passaram então a pedir que ele gravasse suas atuações em vídeo para enviá-las de presente.
O artista começou a fazer os filmes de graça, até que um interessado perguntou quanto ele cobraria para emular Wesley Safadão em um vídeo. “Sei lá, qualquer coisa”, respondi. “O camarada me pagou R$ 50.”
Começou aí a nova fase da carreira de Bruce, o Artista. Com o bordão “Faz o pix”, ele oferece seus serviços de imitação no Instagram e em outras redes sociais, a preços que vão de R$ 50 a R$ 1.000 ou até um pouco mais, a depender do custo de produção e do trabalho exigido.
As pretensões de Bruce, o Artista, estão longe de ser modestas. Ele se define como “o maior artista de imitação do Brasil”, e, nesta entrevista, disse ter planos de ser “o maior do mundo”. “Por que não? Acho que dá, viu, rapaz?” Às favas com a módéstia.
Leia a entrevista na íntegra:
Você trabalhou por muito tempo imitando personagens em festas e portas de lojas?
Bruce, o Artista – Isso mesmo. Fiz animação de festas, formaturas, tudo isso, até 2019. Fazia Roberto Carlos, o cantor Bell Marques… Cobrava, na média, entre R$ 200 e R$ 300 por apresentação. Todo final de semana tinha ao menos uma festa infantil. Eu incorporava super-heróis e tal, mas as outras coisas eram quando surgia. Mas aí veio a pandemia, e tudo foi interrompido.
Como ganhava a vida antes disso?
Sou o quarto de cinco irmãos, três homens e duas mulheres. Meu pai, falecido, era funcionário da Prefeitura de João Pessoa, e minha mãe, aposentada, trabalhava em um hospital local. Minha família veio de Princesa Isabel para a capital do estado quando eu tinha 3 anos. Fui conferente de documentos de uma empresa de informática. Trabalhei numa fábrica de garrafas de refrigerante e também como cabeleireiro.
Bruce Lee foi amor à primeira vista?
Sem dúvida. Na época era uma febre, que me conquistou e encantou adolescentes e jovens em todo o Brasil. Só parei de colecionar as coisas dele há pouco tempo, com essa coisa de a internet diminuir o espaço dos impressos, peças e brinquedos. Mas a paixão continua.
Nas primeiras festas e nas lojas, quem mais você imitava além de Bell Marques e Roberto Carlos?
Vários. Os principais eram Michael Jackson, os cantores Gabriel Diniz, Gusttavo Lima, o humorista Tiririca. De vez em quando surgia um ou outro a pedidos.
Houve um episódio tenso, que envolveu você e o cantor e youtuber Luccas Neto, que acabou contribuindo para a sua carreira. Como foi isso?
Em 2019, no início dessa fase, eu fiz uma imitação do Luccas Neto, em um parque aquático de João Pessoa, coloquei na internet e marquei o nome dele. Chamei a atenção dele porque fiz com carinho, uma homenagem, imaginando que ele gostaria de ver. Levei o nome dele a jovens, a escolas aqui na Paraíba. Se estivesse pensando algo ruim, não teria marcado o nome dele. Mas logo depois recebi uma notificação de pessoas que se diziam do jurídico dele dizendo que não queriam imitações nem covers e solicitando a retirada. Foi o que fiz: apaguei todas relacionadas a ele. Não tinha intenção de me aproveitar de ninguém. Mas aí a coisa vazou nas redes sociais, e eu recebi muita solidariedade. E meu número de seguidores, na época, dobrou.
Como a imitação entrou na sua vida?
Nunca tive formação em artes cênicas. Gostava de jogar bola e achava que tentaria ser jogador de futebol. O que me levou foi mesmo a admiração pelo Bruce Lee, que era ator, diretor, escritor, roteirista, um monte de coisa. Li muita coisa sobre ele, e isso me ajudou a assumir esse lado. Com a coisa do Bruce, muitos amigos chamaram atenção para meu talento na representação, o que ajudou. Na infância, costumava colocar roupas de um ou outro super-herói nas festas de aniversário dos meus amigos e gostava muito daquilo. Com o tempo, e os trabalhos nas festas, caminhões de publicidade e lojas, percebi que isso mobilizava as pessoas.
Como foi a noite em que você foi ao show do Harmonia do Samba fantasiado de Bruce Lee?
Foi a primeira vez em que fui a um show. Eu já fazia o Bruce anteriormente em João Pessoa. Tinha cópias de roupas dele de vários filmes. Jogo da Morte, Operação Dragão… Fui com uma roupa como a dele: calça folgada, blusa de renda… Rapaz, houve um tumulto, e a segurança me pegou. Pensaram que eu estava envolvido, mas nada disso. Tentei subir no palco, não deixaram, mas o Xanddy viu, percebeu que não tinha nada com aquilo e me chamou. “Deixe o rapaz subir”, disse ele. Eu estava com o meu álbum de fotos com pessoas famosas. Ele dançou um pouco comigo no palco, foi ao microfone e falou: “O Bruce Lee ressuscitou e veio ao show do Harmonia do Samba”.
Você faz coleção de fotos com gente famosa?
Hoje, sim. Tenho foto com o Xanddy e muitos outros. Wesley Safadão, Bruno & Marrone, o pessoal do Jota Quest, Cláudia Leitte, a turma do Raça Negra, Reginaldo Rossi, Ivan Lins, o Derico do Jô Soares, Titãs, Cristiane Torloni, Isabel Filardis, Dado Dolabella, o povo da Banda Mel… Um monte de gente.
Quantas personalidades você imitou até agora?
Em torno de 500, calculo. Isso contando todos, até mesmo os que fiz uma única vez em uma festa. Recebo pedidos de todo o Brasil e de pessoas em países como Argentina e Austrália.
Como você vende suas imitações no Instagram e nas outras redes sociais?
Chamo esse tipo de mensagem para alguém que se admira de “salve”. A pessoa pode escolher uma personagem que tenho pronta ou outra inédita. Dia desses pediram, por exemplo, o Tim Maia, que eu ainda não tinha feito. Precisei montar. Eu mando o orçamento, de acordo com o pedido, e um guia dizendo o que pode ou não entrar. Não faço agressões nem ilegalidades.
O cliente manda a foto do homenageado, a data, o texto dele e o comprovante do Pix. É isso?
Exato. Aí eu faço o filme, com a ajuda, na edição, da Andréia Santana, que também é minha namorada. Vou dar um exemplo. Sua namorada ou mulher é fã do Roberto Carlos. Você manda a foto dela, o texto que deseja que eu fale e o comprovante do pagamento. Eu imito o Roberto, pego um manequim, coloco a foto da homenageada e faço uma performance. O preço varia de acordo com a dificuldade do pedido. Se for de personagens já feitas e sem muita produção pedida, fica entre R$ 50 e R$ 300. Se a pessoa pede muita produção, cenários, ações, aí aumenta, mas é opção de cada um.
Você ainda trabalha em aniversários, festas infantis e lojas?
Hoje, não mais. Apenas em eventos maiores, feiras e coisas do tipo. Recentemente virei um troféu em um evento esportivo de porte. Adoro as festas, o trabalho que fiz sempre, só que hoje não sobra muito tempo. Mas, claro, nada é fechado: ouço e analiso todos os convites com carinho e, se as condições forem satisfatórias, vamos lá.
Quais são os seus planos para o futuro próximo?
Penso em fazer um filme. Serei o protagonista. A ideia é eu imitar várias dessas personagens em situações diferentes, para salvar pessoas ou resolver situações, em um roteiro bem amarrado de um longa com ação e humor. Tenho até o título: “Bruce — Um Novo Herói”. Quero ainda me consolidar como o maior artista de imitação do Brasil e do Mundo.
Caramba, rapaz…
Por que não? Acho que dá. Preciso trabalhar muito, mas devo confiar.
Então, perfeito: tenha boa sorte.
Muito obrigado.
Portal Correio