A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está em Montevidéu, no Uruguai, onde participará da 65ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, que começa nesta quinta-feira (5). A presença dela é uma sinalização de que o acordo de livre comércio entre os dois blocos está próximo de ser assinado.
“Pouso na América Latina. A linha de chegada do acordo UE-Mercosul está à vista. Vamos trabalhar, vamos cruzá-la. Temos a chance de criar um mercado de 700 milhões de pessoas. A maior parceria comercial e de investimentos que o mundo já viu. Ambas as regiões sairão ganhando”, escreveu Ursula no X, no começo desta manhã.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve chegar a Montevidéu por volta das 15h30. Na semana passada, ele já havia dito que o acordo de livre comércio seria assinado ainda neste ano.
Lula e Ursula já haviam discutido o tema durante a cúpula do G20, em novembro, no Rio de Janeiro.
O tratado, em discussão há 25 anos, propõe zerar as tarifas para 91% dos produtos exportados pelo Mercosul para a União Europeia e para 95% das exportações do bloco europeu para o Mercosul, ao longo de um período de transição que varia de 10 a 15 anos, dependendo do setor.
Estão previstas a redução de tarifas alfandegárias e o aumento de exportações, especialmente no setor agrícola, no qual o Mercosul possui vantagens competitivas.
A expectativa é que a parceria gere crescimento econômico, investimentos e ampliação de mercado para os países envolvidos, com destaque para o Brasil.
Segundo o Ipea, o acordo pode impulsionar o PIB brasileiro em 0,46% até 2040, equivalente a US$ 9,3 bilhões. Além disso, traria ganhos em investimentos, com aumento de 1,49% no Brasil, superior aos ganhos esperados para a União Europeia (0,12%) e outros países do Mercosul (0,41%).
A parceria também beneficiaria exportações agrícolas brasileiras, com maior acesso ao exigente mercado europeu.
Apesar do potencial econômico, a negociação enfrenta desafios políticos e econômicos. Países europeus, como França e Polônia, resistem ao acordo devido à pressão de seus agricultores, que temem perder mercado para os produtos agropecuários do Mercosul, mais competitivos.
Na França, em especial, os agricultores enfrentam baixa produtividade e dependem de subsídios, o que acentua o temor de competição desigual.
Além da resistência agrícola, o protecionismo europeu em setores sensíveis, como automotivo e químico, também dificulta o avanço do acordo.
Enquanto o Mercosul busca expandir o acesso ao mercado europeu para produtos agrícolas, a União Europeia deseja aumentar a exportação de produtos industriais, equilibrando interesses divergentes entre os blocos.
Incidentes recentes, como a crise com o Carrefour, ilustram o embate político. A rede varejista francesa tentou boicotar produtos do Mercosul, gerando repercussão negativa e críticas no Brasil.
Empresas brasileiras de carne revidaram com um boicote, pressionando o Carrefour a se retratar. O episódio reflete a complexidade das negociações e as tensões entre interesses econômicos e políticos.
Lula critica a resistência francesa e defende a ratificação pela Comissão Europeia. Segundo ele, o pacto não apenas trará benefícios econômicos, mas também concluirá uma longa negociação iniciada há mais de duas décadas.
Portal Correio