Pela primeira vez em um bom tempo, um sinal de rádio veio de dentro da Via Láctea, de acordo com cientistas do Experimento Canadense de Mapeamento da Intensidade de Hidrogênio (CHIME) e da Pesquisa de Emissão de Rádio Transitória 2 (STARE2).
Oficialmente chamadas de “rajadas rápidas de rádio”, ou simplesmente “FRB” pela sigla em inglês, essas emissões duram menos que um milissegundo, mas sensores capacitados conseguem detectá-las sem muita dificuldade.
A situação é inédita para especialistas, uma vez que FRBs tendem a ocorrer fora de nossa galáxia, posicionadas a bilhões de anos luz de distância. Essa nova detecção, porém, foi facilmente posicionada a aproximadamente 30 mil anos luz de nossa posição, o que facilitou muito a sua captura.
“O [pessoal do] CHIME sequer estava olhando na direção certa e ainda viu [o sinal] alto e claro em nossa visão periférica”, disse Kiyoshi Masui, professor assistente de Física no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). “O STARE2 também o viu, e eles são apenas um conjunto pequeno de antenas de rádio feitas com formas de bolo”.
A novidade pode facilitar o estudo de sinais de rádio que recebemos do espaço, algo que a comunidade científica sempre teve certa dificuldade em fazer, dada a distância: “nós podemos aprender mais de uma fonte a 30 mil anos luz de distância do que de outra a um bilhão de anos luz. Finalmente, nós conseguimos uma fonte próxima para pesquisarmos”, celebrou Masui.
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Outro problema das FRBs é a sua duração praticamente efêmera: por um lado, elas são 100 milhões de vezes mais poderosas que o Sol, liberando em um milissegundo um volume de energia que nossa principal estrela levaria 100 anos. Entretanto, eles ficam ativos por tempos extremamente curtos.
Normalmente, um sinal de tamanha energia requer apenas que nós apontemos nossos telescópios em sua direção, mas FRBs não ficam estáticos. No tempo que você leva para piscar, eles já atravessaram galáxias inteiras e sumiram.
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Ainda assim, nosso conhecimento sobre eles nos possibilitou gerar uma base de gravações de eventos bem consistentes – o suficiente para que cientistas como Matsui pudessem aferir a frequência com a qual eles ocorrem: ”Todas as buscas pelo céu sugerem que milhares desses eventos ocorrem todo dia”.
Entretanto, pouquíssimo sobre suas origens pode ser determinado. Segundo Matsui, é certo que rajadas sinais de rádio – dentro ou fora da Via Láctea – têm origem em pontos bem pequenos no espaço. “Não mais do que algumas centenas de quilômetros de tamanho”, diz o cientista.
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O problema: isso não reduz as opções. Estrelas de nêutrons, cordas cósmicas e anãs brancas, por exemplo, recaem nessas características.
Graças ao FRB descoberto dentro da Via Láctea – e um pouco de trabalho de detetive -, os cientistas puderam determinar que o ponto de origem deste sinal foi uma magnetar, um tipo de estrela de nêutron jovem, nascida de uma explosão supernova cujos efeitos lhe ainda são incidentes.
Magnetares não têm esse nome à toa: dotados de um campo magnético cinco quatrilhões de vezes (o número “5”, seguido do zero, repetido 15 vezes) mais poderoso que o da Terra, eles são os ímãs mais poderosos do universo.
Segundo toda a bibliografia que temos disponível no estudo do assunto, sabemos que essas rajadas rápidas de rádio emitem radiação eletromagnética de curta duração – especificamente, raios-x e raios gama. Ambos os raios emitem pequenas explosões de curtíssima duração. A teoria científica é a de que essas explosões liberam ondas de rádio, o que pode ser indício das magnetares como origem dos FRBs.
No caso da recente descoberta – a que os cientistas se referem como “FRB 200428” -, foi determinado que ela veio da constelação de Vulpecula, que acontece de ser a “casa” da magnetar SGR 1935+2154. E esse FRB veio acompanhado de emissões de raios-x, reforçando a teoria dos especialistas.
Outros telescópios e centros de observação também detectaram um aumento súbito de raios gama e raios-x na mesma região, então agora todos eles precisam reunir os dados e discutir a validade das teorias estipuladas.
olhardigital