Cigano avalia novos desafios e conta bastidores da saída do UFC: “Não respeitam a história”

Ex-campeão peso-pesado do UFC, Junior Cigano deixou o evento por onde lutou durante quase 13 anos. Em entrevista ao Combate, o lutador contou como foram seus últimos meses na organização e criticou a forma como aconteceu sua saída do Ultimate.

– O jeito como a luta (contra Ciryl Gané) acabou roubou totalmente a minha atenção, eu esqueci de tudo ao meu redor e fiquei pensando naquela sacanagem que estavam fazendo comigo. Na minha opinião, a melhor palavra para explicar isso é essa: sacanagem. Foi do jeito que foi. Agora, eu já estava esperando uma decisão nesse sentido do UFC, eles não respeitam história, não respeitam nada. Doze, treze anos na companhia, sempre dando o meu melhor e contribuindo com o esporte, mas para eles é apenas um negócio. Eu estava vindo de concussão, assim como estava vindo também na luta com o Gané. Perigosa, foi com um golpe ilegal na nuca. Eu vindo de concussão e eles pediram que eu fizesse uma luta no dia 27 de março, contra o (Marcin) Tybura. Há 20 dias, alguma coisa assim. Eu falei: “Caramba, não dá. Eu vou lá para perder de novo? Parece que estão querendo me usar de escada para os caras, pois não estão me dando tempo de nada.” Vindo de uma concussão, achei até sem noção essa proposta. Eu neguei, então eles falaram que numa votação decidiram por me afastar, encerrar o meu contrato. Foi uma situação bem estranha e complicada, na verdade.

Na entrevista a seguir, Cigano conta como tem sido o início desta nova fase de sua carreira, admite que problemas psicológicos podem ter comprometido seu desempenho nas últimas lutas, além de revelar mais detalhes sobre sua saída do UFC e como viu o convite do campeão peso-pesado do Bellator, Ryan Bader, para que ele integre sua organização.

Veja abaixo:

Você estava no UFC desde 2008. Como tem sido essas primeiras semanas fora da organização?

É uma situação nova, fazia muito tempo que eu não me sentia assim. Posso te falar com sinceridade que eu estou gostando bastante da sensação. Como comentei anteriormente, estou me sentindo até rejuvenescido É aquele negócio, comparando assim, é como se você tivesse com uma namorada por 12, 13 anos, de alguma forma acaba a relação, e você nota várias outras meninas interessadas em você. Eu percebo isso, graças a Deus, sempre fizemos um trabalho muito sério, dando o nosso melhor, e estou gostando bastante das oportunidades que estamos ouvindo por enquanto. Estamos esperando a poeira baixar, tendo calma para a decisão, minhas decisões, principalmente diante de resultados negativos. Eu queria ter logo um próximo objetivo, uma luta marcada para poder focar nela. Sem pensar, sem tempo para relaxar. Desta vez, estamos tirando um tempinho para colocar a cabeça no lugar, observar bem o que está acontecendo, as oportunidades que estão chegando para tomar uma decisão e seguir em frente.

Sua ideia é tirar o primeiro semestre para descansar e negociar seu próximo contrato ou já toparia uma luta nestes próximos meses?

Vai depender muito das negociações que estamos fazendo. Eu estou treinando todos os dias, esse é o meu estilo de vida, na verdade, não consigo ficar sem. Amo fazer isso e treino todos os dias, fazendo um treino por dia só, mas não parei. Caso apareça uma boa oportunidade ou luta que seja interessante, estarei pronto. Porém, não com pressa, nem correndo atrás de fazer uma luta acontecer, nada disso. Estamos calmos, avaliando tudo e vendo qual será o próximo passo.

O Ryan Bader é o campeão peso-pesado do Bellator e abriu as portas para você lá…

Ryan Bader é um cara bastante perigoso, ele tem uma mão pesada, bate muito forte, é do wrestling. Sinceramente, acho que faríamos uma grande luta. Interessante ele se mostrar disposto a poder estar me enfrentando numa futura luta, e quem sabe, vamos ver como as coisas caminham junto do Bellator. Seria bastante interessante poder enfrentar o campeão do Bellator. Eu sei da empolgação dele, como campeão ele tem que estar empolgado mesmo, mas acredito que o nocautearia.

Em toda sua carreira, você nunca havia emendado derrotas seguidas. Neste final de sua passagem pelo UFC, você teve quatro consecutivas. O que deu errado? É uma fase ruim? O alto nível dos adversários deixa os combates mais abertos?

Com certeza, o alto nível existe, mas é difícil avaliar a situação com certeza, sabendo exatamente o que aconteceu, pois a gente não sabe. Sempre treinei bastante e me dediquei ao máximo. Muitas coisas acabaram mudando em minha vida, novos momentos acabaram acontecendo. Eu sou um cara muito feliz, tenho uma família linda, uma carreira maravilhosa, graça a Deus, então tudo na minha vida é legal. Mas às vezes a gente perde um pouco o foco do que realmente é o objetivo principal, vamos dizer, que no caso seria a carreira. É uma questão de aprendizado. Lidar com esses novos momentos, lidar com esses novos sentimentos, a forma como reagir a tudo. Eu mudei nesse sentido, principalmente, depois que meus filhos chegaram, de como eu absorvo e reajo a todas as coisas ao meu redor. Sempre, óbvio, pensando neles. Acaba refletindo de alguma forma na carreira. Não estou dando desculpa nenhuma. Pelo contrário, meus adversários foram excelentes, conseguiram o objetivo deles. Mas eu tenho 37 anos, me sinto bem, e posso dizer com certeza que provavelmente estou numa das melhores formas da carreira, senão a melhor. Estou com mais experiência, mais inteligente, sabendo treinar melhor.

O meu problema está sendo na semana da luta e dentro do octógono, acho que a parte psicológica tem pesado bastante, mas estou feliz porque soubemos identificar essa situação. Agora estou trabalhando forte nisso, com uma doutora americana. Há traumas em nossas vidas que nunca mudarão, eles não podem ser apagados da tua cabeça, do que você registrou, mas seu entendimento sobre eles pode mudar. É isso que eu tenho trabalhado, estou me sentindo bem em relação a isso, tenho muita lenha para queimar, estou empolgado com o que está por vir.
Sei que faremos muito barulho. Se você acompanhar meu treinamento na academia, meu dia-a-dia… Estou muito bem, me sinto empolgado, eu amo fazer o que faço. Sair na porrada na academia, com a galera, é muito bom. Com plena certeza, falo que tenho muita lenha para queimar ainda. Em breve, eu pretendo e espero poder comprovar isso.

Você falou de pressão psicológica na semana da luta, mas você é um lutador muito experiente, certamente está acostumado com essas situações. Como foi isso?

É pressão psicológica mesmo, é difícil explicar exatamente o que acontece, mas é uma pressão forte que acaba te tirando o foco do que realmente deveria estar prestando atenção, a luta. Acaba te colocando numa situação defensiva, e não agressiva, de ataque. É como eu tenho me sentido nessas últimas lutas, tenho tentado agir de uma forma a me cuidar mais, acho que isso é claramente notável. Ou seja, agindo mais na parte defensiva do que atacando meus oponentes e impondo a minha estratégica, força. Superficialmente, é isso. Mas temos trabalhado forte, e que bom que identificamos essa situação. Tem coisas que às vezes ficaram no passado, mas não foram bem resolvidas. Tudo na nossa vida temos que entender de uma forma boa. Pelo menos eu tinha o costume de ignorar as coisas que me chateavam e acabavam me perturbando, e isso é um problema. Acaba se tornando um peso para as suas coisas. Você tem que resolver as situações na sua vida e seguir em frente. Quando não existe solução, é necessário aprender a atender aquela situação como um acontecimento benéfico para a sua vida. Conversando com essa doutora, tive esclarecimentos bem legais sobre minha própria vida e estou muito feliz. É por isso que estou empolgado de dar o próximo passo é seguir em frente. A sensação é de liberdade, de poder estar ouvindo nossas propostas e situações ao redor. Até sobre boxe estamos conversando, vamos ver o que vai acontecer, mas estou bem feliz em relação a isso.

Assim que saiu a notícia da sua saída do UFC, naturalmente a questão desta sequência negativa de derrotas já foi levantada como o principal fator, mas também aconteceu uma situação de que você não teria topado fazer uma luta em cima da hora. Como foi isso?

A minha luta com o (Ciryl) Gané já foi em cima da hora. Eu estava no Brasil e voltei para os Estados Unidos algumas umas semanas antes da luta, não teria o tempo suficiente, dois meses e meio, que eu preciso para estar pronto para uma luta. Principalmente se eu não estiver numa constante de treinamento. Me ofereceram, eu não falei que não, eu não nego oponentes. Só pedi que a luta fosse em janeiro, mas eles disseram que eu precisaria lutar no dia 06 de dezembro, precisavam que eu lutasse nessa data, e como eu estava vindo de três derrotas, se eu não lutasse, provavelmente eles iriam me dispensar. Eu falei: “Po, você não está me dando uma opção então, você não está perguntando se eu quero lutar, mas dizendo “Você vai lutar nesta data, esteja pronto ou não”. Não posso dizer que eu não cheguei pronto, pelo contrário, meu corpo tem uma memória muito boa, eu me dedico sempre aos treinos, tenho um estilo de vida bastante saudável, não posso dizer que não estava pronto. Mas não foi o ideal para chegar numa luta contra um cara duro como é o Gané. Mesmo assim fomos para a luta, e aconteceu tudo que aconteceu, principalmente da forma como foi. O jeito como a luta acabou roubou totalmente a minha atenção, eu esqueci de tudo ao meu redor e fiquei pensando naquela sacanagem que estavam fazendo comigo. Na minha opinião, a melhor palavra para explicar isso é essa: sacanagem. Foi do jeito que foi.

Agora, eu já estava esperando uma decisão nesse sentido do UFC, eles não respeitam a história, não respeitam nada. Doze, treze anos na companhia, sempre dando o meu melhor e contribuindo com o esporte, mas para eles é apenas um negócio. Eu estava vindo de concussão, assim como estava vindo também na luta com o Gané. Perigosa, foi com um golpe ilegal na nuca. Eu vindo de concussão e eles pediram que eu fizesse uma luta no dia 27 de março, contra o (Marcin) Tybura. Há 20 dias, alguma coisa assim. Eu falei: “Caramba, não dá. Eu vou lá para perder de novo? Parece que estão querendo me usar de escada para os caras, pois não estão me dando tempo de nada.” Vindo de uma concussão, achei até sem noção essa proposta. Eu neguei, então eles falaram que numa votação decidiram por me afastar, encerrar o meu contrato. Foi uma situação bem estranha e complicada, na verdade. Um desmerecimento, me senti como um soldado de uma tropa que sempre lutou por determinado ideal, o nosso esporte, fazer o nosso esporte cada vez melhor, eu fazia parte desse batalhão, um soldado assíduo. Competimos uns contra os outros, os atletas, mas lutamos sempre pela mesma causa, que é fazer o nosso esporte melhor. Ou seja, parte de um batalhão, uma tropa ofensiva para torná-lo cada vez melhor. O jeito que eu sentia… fui um soldado machucado no campo de batalha, e em vez de ser ajudado a sair, fui deixado para trás para morrer ou o que for. Mas como bom soldado e resistente que sou, estou pronto para surpreender de novo e seguir em frente. Posso ter pedido uma batalha, mas a guerra é muito maior do que isso.

Ao contrário de alguns anos atrás, há bons desafios atualmente para enfrentar fora do Ultimate.

Por isso estou tão empolgado, tenho gostado das conversas que temos tido, vamos ver o que está por vir, mas sem dúvidas, algo bastante legal. O próprio PFL, Bellator, vários eventos estão fazendo um trabalho legal. Uma das coisas que também me deixou empolgado foi o boxe, hoje em dia, vários caras desses de youtuber estão fazendo lutas de boxe, quero lutar um boxezinho. É a minha praia, o que eu gosto realmente de fazer, e caso role uma oportunidade nesse sentido, ficarei feliz. Mas a minha intenção principal é seguir em frente, como eu falei, tenho 37 anos, me sinto excelente, muito bem. Apesar dos resultados negativos pela parte psicológica, fisicamente eu estou muito bem. Trabalhando para ficar bem na parte da cabeça. Vamos em frente, fazer isso acontecer e participar de novas grandes lutas, tem vários excelentes atletas esperando por boas batalhas. Essa é a minha grande vontade, claro, de poder competir de novo. A galera que sempre me apoiou e gosta de ver o Cigano lutando, pode ficar preparada que em breve novas notícias chegarão. Seguimos na luta, como se fala aí. Em breve, faremos a coisa acontecer de novo.

 

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