O Brasil abriu mais de uma loja virtual por minuto desde o início do isolamento social, em março. Em pouco mais de dois meses, foram 107 mil novos estabelecimentos criados na internet para a venda dos mais diferentes produtos, como alimentos, bebidas, roupas, calçados e produtos de limpeza. Esse foi o caminho encontrado por muitas empresas para amenizar a súbita queda de faturamento por causa da pandemia, segundo levantamento feito pela Abcomm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) entre 23 de março e 31 de maio.
Antes da quarentena, a média de abertura de lojas na internet era de 10 mil estabelecimentos por mês. “Esse é o legado positivo de toda situação negativa que estamos vivendo”, diz o presidente da
Na região do Bom Retiro, importante centro popular de compras de São Paulo, cerca 75% dos lojistas aderiram a algum meio de vendas online, diz o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas da região, Nelson Tranquez. Segundo ele, a pandemia chegou num momento em que as empresas ainda se recuperavam de crises passadas.
“Com o fechamento do comércio, em março, quem nunca tinha pensado em comércio virtual teve de começar a desenvolver ferramentas para faturar alguma coisa”, destaca Tranquez. Na avaliação dele, a pandemia provocou uma mudança na cabeça dos empresários, que tiveram de se reinventar. Mesmo quem não teve condições de criar um site, passou a vender em marketplace ou por WhatsApp, diz ele.
Exemplo disso foi a expansão da plataforma Ozllo, que vende roupas e acessórios novos e usados. A fundadora do marketplace, Zoe Póvoa, conta que durante a pandemia o número de empresas que aderiram ao ambiente virtual subiu de 43 para 70 lojas. “Isso inclui desde pequenas empresas até lojas famosas de shopping”, diz a empresária, que tem visto a receita crescer mais de 15% ao mês.
Na avaliação do presidente da Trevisan, VanDick Silveira, a pandemia obrigou as empresas a repensar seus modelos de negócio. “E ficou claro que o modelo digital dá resultado e veio para ficar.” Com o isolamento social, as pessoas passaram a comprar de tudo pela internet, produtos e serviços. “É uma mudança radical. Tivemos um salto de cinco anos nesse processo (de digitalização do consumidor)”, avalia Silveira.
Segundo Maurício Salvador, da Abccom, o isolamento social não só acelerou a abertura de lojas na internet como também trouxe novos consumidores para o comércio eletrônico. A expectativa era ganhar 3 milhões de clientes para as vendas online até o fim deste ano. Mas, só durante a quarentena, foram 2 milhões de novos consumidores que até então nunca tinham feito nenhuma transações pela internet.
Esse aumento elevou em 40% as vendas online no período, segundo dados da Abcomm. Para as empresas, a expansão foi uma saída para pelo menos, bancar as despesas fixas. Com a estrutura física fechada, muitos negócios tiveram de correr para colocar de pé um sistema e manter algum faturamento. Foi o caso da Chocolateria Brasileira, uma rede de franquias que tem 20 lojas no País.
Com a quarentena decretada às vésperas da Páscoa, a empresa teve poucos dias para desengavetar um projeto de e-commerce e vender os produtos pela internet. “Conseguimos vender todo o estoque da Páscoa e ainda tivemos um ótimo movimento e no Dia da Mães. Agora estamos nos preparando para o dia dos namorados”, diz Cintia Pitta, gerente de franquias da chocolateria.
Segundo ela, com o fechamento das lojas, o faturamento caiu 60%. “Mas com as vendas online, ficamos no zero a zero e não entramos no vermelho”, diz Cíntia.
O comércio eletrônico também foi a saída encontrada pela rede de franquias Mil e Uma Sapatilhas compensar o fechamento de 90% das lojas franqueadas. “Isso impactou nosso faturamento. Então tivemos a ideia de fazer as vendas pela internet”, diz a fundadora da empresa, Renata Marcolino. Em 20 dias, conta ela, a empresa conseguiu colocar o site no ar, hoje responsável por 20% do faturamento esperado para o período (se não tivesse a pandemia). “Graças ao site conseguimos manter a empresa”, diz ela, que começou a vender sapatilhas em casa.
No restaurante Spot Urbano, as vendas online representam 15% do faturamento normal. O estabelecimento tem usado aplicativos e redes sociais para vender. “Estamos fechados desde 18 de março. Se não fossem as vendas online, minhas receitas teriam zerado”, diz o proprietário do restaurante, Eduardo Santiago Silveira.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.