Grande parte da nova geração não se lembra ou não tem a percepção da importância que a dupla Leandro e Leonardo teve para o cenário musical brasileiro. O dueto foi interrompido há exatos 20 anos com a morte de Leandro, vítima um câncer em seu mediastino, na cavidade do pulmão direito.
Nascido em 15 de agosto de 1961, em Goianápolis, a 40 quilômetros de Goiânia, na região Centro Oeste do Brasil, Leandro deixou quatro filhos: Thiago, Lyandra e Leandro Costa e Leandro Borges.
Foi em uma das fazendas da família, no estado do Tocantins, em 19 de abril de 1998, que o cantor sentiu uma dor aguda nas costas ao tentar pescar. Três dias depois, desmaiou enquanto tomava banho e foi levado ao hospital para tirar uma radiografia do tórax. O diagnóstico trazia uma mancha sobre o pulmão direito, do tamanho de uma laranja. No dia 8 de maio, médicos do hospital da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Estados Unidos, detectaram que o tumor era maligno.
Leandro sofria de um tipo de câncer de pulmão raríssimo: o tumor de Askin. Dez dias após o diagnóstico, passou por duas cirurgias, reiniciou a terceira etapa do tratamento quimioterápico e foi submetido a diversos procedimentos médicos. O tumor comprometeu o coração e os pulmões rapidamente, afetando brônquios, veias e artérias do coração. A última aparição pública dele ocorreu no dia 8 de junho, na varanda de seu apartamento, em São Paulo. Careca por causa da quimioterapia, Leandro surgiu enrolado numa bandeira do Brasil, que estreava na Copa daquele ano. Na calçada do edifício, dezenas de fãs faziam um coro da música “Como é Grande o Meu Amor por Você”, de Roberto Carlos.
Em 15 de junho, o cantor sofreu uma parada cardiorrespiratória em casa e foi encaminhado à UTI do Hospital São Luiz, onde permaneceu sedado e respirando com a ajuda de aparelhos. Leandro não resistiu e, a 0h10, do dia 23 de junho de 1998, teve falência múltipla dos órgãos, segundo boletim médico divulgado à imprensa. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, uma multidão velava o corpo do cantor. A comoção foi geral e televisionada. Em Goiânia, o sepultamento aconteceu no Cemitério Parque Jardim das Palmeiras. Cerca de 150 mil pessoas acompanharam o caixão, que foi conduzido em cima do caminhão do Corpo de Bombeiros.
O INÍCIO DE TUDO
Foi Leandro (cujo nome na certidão é Luís José da Costa) quem decidiu partir para a capital de Goiás com um conjunto de baile chamado Os Dominantes. No repertório, músicas dos Beatles e Roberto Carlos. A inspiração para cantar vinha do pai, que, entre uma colheita e outra de tomates, voltava para casa cantarolando.
Os Dominantes teve carreira curta e o retorno de Leandro (àquela altura ainda se chamando Luís) a Goianápolis se fez necessário. No meio do caminho, o encontro com um amigo, pai de dois meninos chamados Leandro e Leonardo, mudaria tudo. Os nomes das crianças lhe soaram bem aos ouvidos e terminaram por batizar a dupla sertaneja que o Brasil inteiro iria reverenciar. O irmão, que na pia de batismo ganhou o nome de Emival Eterno da Costa, viraria Leonardo e juntos eles seguiriam.
SONHO POR SONHO
Através dos pequenos shows em bares de Goianápolis, Leandro e Leonardo conseguiram dinheiro para lançar a primeira fita, em 1983. Em 1987, o segundo disco trazia a canção que os faria conhecidos no interior do Brasil: “Solidão”. Mas foi a música “Entre Tapas e Beijos”, do terceiro disco (1989), que abriu caminhos para a dupla em todo o País: mais de um milhão de cópias vendidas e cerca de 20 shows por mês.
Disco de ouro, platina e diamante foram consequência dos mais de 3 milhões de cópias vendidas pelo quarto álbum da dupla (1990), trazendo uma música que faz sucesso nos karaokês desde então: “Pense em Mim”. Um ano depois, outro estouro de vendas. “Paz na Cama”, em seu primeiro dia nas rádios, tocou mais de 2 mil vezes. Foram 15 anos de carreira e 14 discos, com cerca de 10 milhões de cópias vendidas.
Nas telas, em 1992, os filhos de Dona Cármen e Seu Avelino interpretaram a vida real, na Rede Globo, semanalmente. O seriado musical “Leandro & Leonardo” teve nove episódios e dezenas de convidados. Entre eles, Chitãozinho e Xororó, Elba Ramalho, Alceu Valença, Erasmo Carlos, Biquíni Cavadão, Luiz Caldas, Zé Ramalho e Jorge Ben Jor.
O FIM DA DUPLA
O cantor Leonardo lembra que o médico responsável pelo irmão contou somente para ele sobre o real estado de saúde de Leandro. “O médico me disse que ele (Leandro) tinha 60 dias de vida. Não passei essa conversa para ninguém, nem para os meus irmãos, nem para a minha mãe”, desabafou, em entrevista ao programa “Conversa com Bial”, no dia 24 de abril deste ano. A parceria de 15 anos, encerrada pela morte do irmão, deixou frutos.
“Lembro dele todos os dias, nas músicas que eu canto hoje. O tempo dá uma amenizada, mas não dá para esquecer jamais. Ele era meu mentor”, completou.
Quem lembra da dupla sertaneja certamente se recorda da música “Festa de Peão”. Lançada em 1995, o hit narra a vida festeira de quem vive de gado: “Tem que ser bom violeiro/ E também contar com a sorte”. Mas a trajetória da dupla não foi construída apenas com talento e sorte. Dedicação e humildade andaram lado a lado com os jovens que, uma década após o lançamento do primeiro disco, chegaram a fazer apresentações até no Japão.
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