SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os juros para financiar a casa própria podem aumentar em breve se as condições para a oferta do crédito não mudarem, segundo agentes do mercado imobiliário reunidos nesta terça-feira (24) no Incorpora Abrainc (Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias).
Além do aumento da Selic (taxa básica de juros), os recursos da poupança não têm acompanhado a demanda aquecida de vendas de imóveis e de busca por financiamento, afirmam bancos e lideranças do setor.
A taxa de juros de dois dígitos impacta o volume de recursos disponíveis na caderneta, principal fonte de crédito imobiliário, pois outros investimentos ficam mais atrativos. O mercado de capitais tem conseguido suprir apenas parte desse déficit, por meio de letras de crédito imobiliário atreladas ao IPCA. O caminho, porém, ainda é longo para que a poupança seja substituída como instrumento principal de financiamento habitacional do brasileiro, ao lado do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
O ministro da Fazenda em exercício, Dario Durigan, afirmou que o governo estuda novas modalidades. “Nem sempre a gente vai viver o momento de antes, a poupança, por exemplo, não tem mais a força que tinha. A gente sabe disso. O que precisa ser feito em termos de estímulo ao crédito imobiliário? E a gente não tem problema em ousar”, disse no evento.
Para Thiago Lisboa, superintendente executivo de empréstimos e financiamentos do Bradesco, se o cenário não mudar nos próximos meses, o crédito vai ficar mais caro para o brasileiro.
“A probabilidade, se continuar evoluindo dessa forma, a poupança não crescendo na velocidade que as carteiras imobiliárias evoluem, a tendência é essa”, disse.
Ele afirmou que o mercado de crédito imobiliário no Brasil tem, historicamente, uma taxa 1,5 ponto percentual menor do que a Selic, mas tem aumentado a pressão para repassar ao consumidor o custo da construção e da incorporação com participação menor da poupança.
Hoje, a Selic está em 10,75% e a taxa média de juros para financiar a casa própria nos principais bancos do país varia entre 10,49% e 11,49%.
Bruno Bianchi, sócio e diretor de negócios imobiliários e grandes empresas do Itaú BBA, ressaltou que o mercado inteiro tinha a expectativa de terminar o ano numa taxa descendente, mas os juros voltaram a subir, e o mercado já projeta chegar a 12% no início do ano que vem.
“O setor é muito dependente de juros, principalmente na conta do consumidor final. Portanto, quando os juros aumentam, a gente sabe que tem uma parcela da população que acaba perdendo seu poder de compra”, disse o executivo.
Em se tratando de alta renda, ele diz que as altas taxas de juros têm feito com que muitos clientes não vejam oportunidade para fechar negócio. A oportunidade, eventualmente, está na localização, mas para quem já mora bem, diz, não há pressa em se mudar.
O aspecto bom, ponderou, é que apesar dos juros altos, o setor caminha para o seu segundo melhor ano da história do ponto de vista do volume de financiamento imobiliário graças à resiliência do consumidor. A explicação seria o sonho da casa própria.
O segmento do médio e alto padrão (imóveis acima de R$ 350 mil) enfrenta outra dificuldade além da sangria da poupança: o saque-aniversário do FGTS, que está diminuindo os recursos do Fundo de Garantia. Ao lado da poupança, o FGTS é o principal instrumento de financiamento imobiliário do país.
Presente no evento, o ministro Jader Barbalho Filho (MDB) afirmou ser “importantíssimo” discutir o fim do saque-aniversário. “O fundo serve para financiar obras de infraestrutura, tem que financiar, vamos dizer assim, o desenvolvimento do país, habitação. Eu acho que essa deve ser a atenção central do fundo”, disse.
O projeto de lei para o fim do saque-aniversário deve ir ao Congresso Nacional ainda neste ano. O presidente Lula já deu o seu aval. Além de poder sacar um valor no mês de aniversário, instituições financeiras oferecem crédito para antecipar o saque de anos seguintes.
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