Lula prepara ‘giro’ pela África em agosto para participar de cúpulas e se reunir com líderes políticos

Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, e Lula, em imagem do dia 19 de julho (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara um “giro” por países da África em agosto para comparecer a cúpulas internacionais e se reunir com líderes políticos, informaram ao g1 integrantes do governo brasileiro.

Esta será a segunda viagem de Lula ao continente africano desde que tomou posse, em janeiro deste ano. Há duas semanas, o presidente fez uma passagem rápida por Cabo Verde, arquipélago africano no Atlântico (veja detalhes abaixo).

No primeiro semestre, o presidente dedicou a maior parte da agenda internacional a viagens aos principais parceiros comerciais do Brasil e a cúpulas que envolveram países da região (leia detalhes mais abaixo).

Nos dois primeiros mandatos como presidente (2003-2010), Lula viajou todos os anos, ao menos uma vez, para países da África.

Conselheiro de Lula à época, Marco Aurélio Garcia (que faleceu em 2017) era um defensor da diplomacia com o continente e ajudou o Brasil a abrir embaixadas na região.

Segundo fontes ouvidas pelo g1, Lula deverá cumprir as seguintes agendas no continente africano em agosto:

  • África do Sul: Cúpula do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul);
  • Angola: reuniões bilaterais com lideranças políticas;
  • São Tomé e Príncipe: Cúpula da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e reuniões bilaterais com lideranças políticas.

Ida a Cabo Verde e fala polêmica

No último dia 19, ao voltar da Bélgica, Lula teve um encontro com o presidente de Cabo Verde, José Maria Neves. Uma declaração após o encontro, porém, gerou polêmica.

“Eu quero recuperar essa relação com o continente africano porque nós, brasileiros, somos formados pelo povo africano. A nossa cultura, a nossa cor, o nosso tamanho, é resultado da miscigenação de índios, negros e europeus. E nós temos uma profunda gratidão ao continente africano por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país”, disse Lula na ocasião.

O presidente acrescentou que o “pagamento” ao continente deve ser ajudar os países africanos em áreas como industrialização e agricultura.

“Nós queremos agora, com a minha volta à Presidência, recuperar a boa e produtiva relação que o Brasil tinha com o continente africano”, acrescentou.

Lula tem defendido que a África tenha algum representante no Conselho de Segurança da ONU e que a União Africana de Nações passe a integrar o G20.

Antecessor de Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro não visitou países africanos durante o seu mandato (2019-2022). Antecessor de Bolsonaro, o então presidente Michel Temer participou em 2018 da Cúpula dos Brics na África do Sul.

Estratégia diplomática

Diplomatas ouvidas pelo g1 explicaram que o governo adotou estratégias diferentes entre as viagens de Lula no primeiro semestre e no segundo semestre deste ano.

Isso porque, segundo essas fontes, o primeiro semestre foi focado nos seguintes aspectos:

  • retomada de relações com os principais parceiros comerciais;
  • retomada das discussões internacionais sobre mudanças climáticas;
  • retomada da participação em organismos multilaterais.

Diante disso, Lula viajou para os seguintes países, por exemplo:

  • China, Estados Unidos e Argentina (principais parceiros comerciais);
  • França (cúpula sobre financiamento de ações climáticas;
  • Argentina (cúpula da Celac), Japão (cúpula do G7) e Bélgica (cúpula Celac-União Europeia).

Para o segundo semestre, segundo diplomatas ouvidos pelo g1, o presidente Lula deverá focar as viagens:

  • no aprofundamento dos debates internacionais sobre o clima;
  • na retomada das relações do Brasil com os países africanos;
  • no comando de organismos multilaterais.

Além das viagens para África do Sul, São Tomé e Príncipe e Angola, Lula também deve viajar neste segundo semestre para:

  • Belém (Pará), em agosto, para a cúpula de países da Amazônia;
  • Assunção (Paraguai), em agosto, para a posse do presidente Santiago Peña;
  • Nova Déli (Índia), em setembro, para a cúpula do G20 (o Brasil presidirá o grupo a partir de dezembro);
  • Nova York (EUA), em setembro, para a Assembleia Geral da ONU;
  • Nova York (EUA), em outubro, para reunião do Conselho de Segurança da ONU (o Brasil presidirá o órgão durante o mês);
  • Dubai (Emirados Árabes), em dezembro, para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28).

Oposição critica agenda

Desde a posse, Lula tem adotado a estratégia de intensificar as relações do Brasil com outros países.

A postura do presidente tem sido elogiada pela base aliada no Congresso, que vê o Brasil na condição de “protagonista” no cenário internacional. E criticada pela oposição, que afirma ver Lula “mais preocupado” com os problemas globais do que com os do país.

Os primeiros mandatos de Lula

Lula manteve relação próxima com países africanos nos dois mandatos anteriores. Entre 2003 e 2010, o presidente esteve todos os anos em países da região.

O governo brasileiro, à época, apostou em parcerias de cooperação técnica com as nações africanas.

A exemplo do que planeja para este ano, Lula organizava tours pela África com agendas em mais de um país na mesma viagem.

Em 2003, por exemplo, no mesmo giro passou por São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Namíbia e África do Sul.

Em 2009, Lula foi à Líbia participar da assembleia da União Africana. Na ocasião, o presidente provocou polêmica ao criticar a imprensa pelas críticas em razão da relação com ditadores da região, como o anfitrião Muammar Kadafi.

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