Na lama, outra vez. Menos de um ano após sofrer com as denúncias da ‘Operação Cartola’, que investigou um esquema de compra de resultados no Campeonato Estadual, o futebol paraibano volta a ocupar lugar de desonra no cenário nacional por nova suspeita de fraude, dessa vez no programa Gol de Placa, idealizado para beneficiar torcedores, na troca de notas fiscais por ingressos, e clubes, garantindo renda. Porém, o programa teria sido utilizado por agremiações esportivas para fraudes, usando nomes de pessoas até de outros estados na ânsia pelos recursos financeiros.
A denúncia contra o programa foi trazida pela Folha de São Paulo. Conforme a matéria, a Folha descobriu nomes de pelo menos três homens, ambos moradores de estados da região Sul, que nunca pisaram na Paraíba, mas constam como espectadores da partida entre Nacional x CSP, que ocorreu no dia 12 deste mês no estádio José Cavalcanti, em Patos, pela rodada de abertura do Estadual.
As três vítimas teriam tido nomes e CPFs coletados na internet e utilizados pela direção do Nacional de Patos como se eles tivessem ido até o José Cavalcanti e trocado notas fiscais por ingressos para assistirem ao jogo.
Conforme o borderô do jogo, disponível no site da Federação Paraibana de Futebol (FPF), para o duelo entre Nacional x CSP 1.260 torcedores foram beneficiados pelo programa através da troca de ingressos. No documento, cada ingresso oriundo do Gol de Placa é contabilizado no valor de R$ 20, totalizando R$ 25,2 mil que o clube tem direito a receber no programa.
Além da fraude envolvendo nome de moradores de outras regiões, a Folha aponta que a direção do Nacional também apresentou que diversos torcedores beneficiados pelo Gol de Placa no dia 12 possuíam notas fiscais emitidas no mesmo dia em um único estabelecimento, um posto de gasolina situado em João Pessoa, a 317 quilômetros de Patos.
Outros clubes envolvidos
Ainda segundo a Folha, a fraude no Gol de Placa não ocorreu apenas este ano e o Nacional de Patos não é o único a cometer a crime.
Também na rodada inicial do Paraibano, mesmo com o estádio Amigão praticamente vazio, o Serrano, clube mandando da partida contra o Atlético de Cajazeiras, divulgou em borderô 483 torcedores haviam sido beneficiados pelo Gol de Placa, dando ao clube o direito de receber R$ 9.660 no programa.
Da mesma forma como o Nacional, a maioria das notas fiscais apresentadas pelo Serrano como usadas pelos torcedores na troca dos ingressos foram emitidas no dia do jogo em um único estabelecimento, um posto de combustíveis de Campina Grande.
Já no dia 16 deste mês, a partida entre CSP x Serrano, no estádio Almeidão, em João Pessoa, contou com um público ínfimo, como pode ser visto em matéria da TV Correio.
Porém, no borderô, o CSP divulgou que 2 mil torcedores foram beneficiados com o Gol de Placa, totalizando R$ 40 mil. Não houve público pagante de ingresso fora do programa.
A Folha também cita o Botafogo-PB como um dos clubes que, em algum momento, fraudaram o Gol de Placa. Segundo a matéria, em 2015, na primeira rodada do Estadual, o clube listou como beneficiados pelo programa torcedores de outros estados.
Justificativas
Em nota, o governo do Estado afirmou que “cabe exclusivamente aos clubes a troca de notas fiscais pelos ingressos aos torcedores e a consequente elaboração da lista (entregue ao governo) dos beneficiados”.
“Após os jogos, de acordo com o torneio, a Confederação Brasileira de Futebol ou a Federação de Futebol da Paraíba emitem o documento oficial da referida partida, conhecido como borderô, discriminando a quantidade de ingressos distribuídos por meio do Gol de Placa e confirmando as informações encaminhadas pelos clubes. Somente após o recebimento do documento oficial emitido pela CBF ou FPF, junto com o relatório de utilização e distribuição de ingressos, é que a Sejel homologa e encaminha as informações para a Secretaria da Receita”, diz a nota.
Ainda conforme a nota, o Estado se isentou de responsabilidade nas fraudes e que não compactua com qualquer ação que desvirtue o programa.
“O governo do Estado adota todo o procedimento baseado na legislação que rege o Gol de Placa, apostando no futebol paraibano e, especialmente, no compromisso dos clubes em utilizar o programa de acordo com as regras estabelecidas. Neste sentido, o Governo reafirma a importância do Gol do Placa e assegura que não pactua com qualquer ação externa que venha desvirtuar o objetivo principal do programa. Estando, portanto, pronto para adotar todas as providências cabíveis em caso de desrespeito da regularidade e legalidade do modelo adotado”, relatou o Estado.
Em entrevista a repórter Sandra Macêdo, do programa Correio Debate da Rede Correio Sat, o presidente do Nacional de Patos, Cleodon Bezerra, afirmou que o clube vem cumprindo a risca todas as determinações para troca de ingressos no programa.
“A questão do Gol de Placa a gente está fazendo da forma correta, como foi passada pela própria Sejel (Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer da Paraíba) em uma reunião que os nossos diretores foram, onde foi informada a situação de como fazer a troca de ingressos do Gol de Placa e estamos fazendo de acordo com o que foi determinado”, contou o presidente.
Também ao Correio Debate, o secretário de Juventude, Esporte e Lazer da Paraíba, José Marco, disse que a secretaria não tem como saber se os nomes e CPFs que constam nas listas entregues pelos clubes são, de fato, corretos. Além disso, a secretaria vai encaminhar ofício para que todos os clubes entreguem arquivo com as últimas trocas de ingresso do Gol de Placa.
“Não tem como a Secretaria saber quem são aquelas pessoas (torcedores na lista que foram beneficiados pelo programa) porque quem cadastra são os clubes. Cada um dos clubes tem uma senha individual que eles fazem esse cadastramento e indica que foi trocada a quantidade de tanto. Essa questão de números de CPF e nomes ficam guardados. O que a Secretaria vai fazer é encaminhar um ofício para todos os clubes pedindo que eles enviem um arquivo dos dois últimos jogos que houve troca do Gol de Placa para que a fazer uma auditoria interna e tomar as devidas providências”, disse José Marco.
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