Cientistas montaram o primeiro mapa geológico global de Titã, uma das principais luas de Saturno, graças aos dados fornecidos pela sonda Hyugens – lançada em 1997 com a missão Cassini. Além de ser a única lua do Sistema Solar com nuvens e atmosfera densa, as evidências indicam que Titã é coberta por material orgânico.
De acordo com o estudo publicado na revista Nature Astronomy, os dados de instrumentos de infravermelho e radar da Cassini conseguiram retirar essas camadas densas da atmosfera, que obscurecem uma visão maior da lua. Com essas informações, os cientistas reconstruíram e mapearam a superfície de Titã, apresentando seis principais formas geológicas, sua idade, distribuição e detalhes sobre os polos.
Titã possui em sua superfície corpos líquidos, semelhantes aos da Terra, mas os rios, lagos e mares são feitos de etano e metano líquidos. Estes compostos formam nuvens e fazem chover gás do céu. Esse ciclo de metano é o impulsionador da geologia de Titã – nos polos, a umidade ajuda o metano a permanecer em seu estado líquido. Ao redor do equador, um clima mais árido faz com que as dunas esculpidas pelo vento permaneçam intactas.
Em outras palavras, encontramos formações geológicas diferentes de acordo com a latitude. Mas há uma característica mais proeminente ao redor de toda a lua: a presença de planícies orgânicas.
Mapa de Titã. As áreas em verde correspondem às planícies, cobertas por materiais orgânicos (Imagem: NASA/JPL-Caltech/ASU)
Rosaly Lopes, autora do estudo e pesquisadora sênior do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, explica que “a forte dependência latitudinal das diferentes unidades dá pistas sobre como o ciclo do metano está operando”, embora ela reconheça que ainda existam mistérios. “Por exemplo, a maior parte da superfície é coberta por materiais orgânicos, particularmente as planícies (65%) e dunas (17%). Estes são formados, pensamos, por materiais orgânicos que caem da atmosfera e são movidos pelo vento. Então isso nos diz que os ventos foram muito importantes para moldar a superfície de Titã”.
Essa descoberta de que grande parte de Titã está coberta de planícies orgânicas foi uma surpresa para os pesquisadores. É que, de acordo com Lopes, “as pessoas tendem a conhecer e estudar os recursos mais ‘interessantes’ de Titã, como lagos (que cobrem apenas 1,5% da superfície)”.
Informações valiosas para a missão Dragonfly
Em 2026, a NASA enviará a missão Dragonfly para explorar Titã a partir de 2034. O objetivo final da sonda é visitar uma cratera de impacto, onde se acredita que ingredientes importantes para a vida se misturaram quando algum objeto do espaço atingiu o solo no passado, possivelmente dezenas de milhares de anos atrás.
Este novo mapa da lua pode ajudar a fornecer contexto para qualquer coisa que porventura venha a ser descoberta pela Dragonfly, de acordo com Lopes. “Ainda temos muitas perguntas sobre Titã. Para mim, as mais interessantes são as relacionadas à habitabilidade”, afirmou a cientista, que espera muitas respostas sobre a composição e a potencial habitabilidade quando a Dragonfly mostrar dados diretamente da superfície de Titã. Para ela, “o fato de termos tanto material orgânico em Titã tem implicações importantes para a vida”.
Lopes e sua equipe está trabalhando em modelos de evolução da paisagem de Titã para entender como o material orgânico se move através da superfície e onde e como ele é capaz de penetrar na crosta de gelo. “Os orgânicos que chegam ao oceano, o ambiente habitável mais provável, são fundamentais para a habitabilidade”, conclui a pesquisadora.
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