Além de confrontos dentro de campo entre times do futebol paraibano estarem sob a suspeita de ser um grande teatro, outro duelo, este de características retóricas, argumentativas e teóricas, também podem ter sido manipulado. Isso porque, no campo jurídico, os julgamentos realizados pelo Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol da Paraíba (TJDF-PB) também estão na mira da Operação Cartola. Segundo um relatório da Polícia Civil na investigação, a que o GloboEsporte.com teve acesso, o presidente da Federação Paraibana de Futebol (FPF), Amadeu Rodrigues, influenciava diretamente nas decisões do TJDF-PB. Em uma conversa entre o mandatário da FPF e o presidente do Tribunal, Lionaldo Santos, também obtida pela reportagem, o dirigente diz ao auditor qual o resultado no julgamento que mais lhe interessa.
O principal caso foi na questão da polêmica do regulamento do Campeonato Paraibano deste ano. A carta magna do torneio de 2018 trouxe diversas confusões em relação à interpretação do funcionamento das fases decisivas da competição. Após findada a primeira fase, a de grupos, a celeuma começou a tomar forma. Cada clube fazia a sua leitura do documento e defendia que tinha as vantagens dadas pelo regulamento.
De um lado, o Botafogo-PB entendia que tinha uma melhor campanha geral do que o seu rival da semifinal, o Treze, e, portanto, iria decidir a vaga na final, no segundo jogo, em João Pessoa, tendo ainda a vantagem de jogar pelo empate no resultado agregado do confronto. Do outro lado, o Galo da Borborema argumentava que o regulamento dizia que as vantagens em questão nas semifinais eram dos líderes de grupo da primeira fase, no caso, Campinense e Treze. Esse também era o entendimento da FPF.
Com essa briga de concepções, o impasse fatalmente caiu nas mãos da Justiça Desportiva. Por conta disso, o presidente da FPF, Amadeu Rodrigues, direto interessado no julgamento, em conversa com Lionaldo Santos, sugeriu qual deveria ser o resultado da sessão que julgava ações impetradas pelo Botafogo-PB e Sousa, em questionamento ao regulamento do campeonato.
Lionaldo: Me diga uma coisa, essa sessão deve ser realizada hoje… qual é a sugestão que você dá?
Amadeu: Seguir o relator. Manter do jeito que tá… o primeiro jogo aqui em João Pessoa, o segundo em Campina, com o Treze com direito das vantagens.
Lionaldo: Já falasse com Serpa (auditor do TJDF-PB).
Amadeu: Eu não tenho ligação com Serpa não… dei uma ligada para ele, mas é o lógico isso…
Lionaldo: O relator é ele.
Amadeu: Você viu que o procurador deu um um parecer já, não foi?
Lionaldo: Foi.
Amadeu: Dessa forma… da forma correta… entendeu? Pelo menos é a orientação de todos… Vamos seguir o que está certo… o certo é esse… o primeiro jogo é aqui… o segundo lá… com a vantagem do Treze… é o entendimento que está até no Supremo…
O julgamento das ações do Botafogo-PB e do Sousa aconteceram no mesmo dia da interceptação telefônica, 22 de março, e o resultado foi justamente o que interessava a Amadeu Rodrigues. Por unanimidade, o pedido botafoguense acabou sendo rejeitado pela corte. Lionaldo Santos se absteve de votar, em virtude de um pedido impetrado pelo Treze de suspeição, que acabou não tendo efeito, com a saída do presidente do TJDF-PB da sessão.
Em entrevista coletiva realizada na tarde dessa segunda-feira, curiosamente na sala de julgamentos do TJDF-PB, Eduardo Araújo, diretor executivo da FPF, explicou que se tratava de uma relação institucional e que Amadeu apenas relatou o teor de um parecer jurídico sobre o tema.
– Ele (Amadeu) falou o que estava no parecer. É uma relação institucional e, quando consultado, ele não falou nem mais nem menos do que estava no parecer. Como quem diz: “a minha recomendação é obedecer o parecer do (Departamento) Jurídico” – disse Eduardo.
A reportagem também entrou em contato com o presidente do TJDF-PB, Lionaldo Santos. O auditor fez questão de dizer que não está envolvido em nada da Operação Cartola e que, no diálogo que foi gravado com Amadeu, ele estava falando sempre sobre o advogado do Treze, George Ramalho, que, segundo ele, vem querendo lhe prejudicar a qualquer custo.
– A relação que eu tenho com Amadeu é totalmente institucional. Eu encontro com ele quando tem solenidade, algum tipo de reunião. Eu não tenho proximidade com ele. Eu me lembro dessa conversa, eu sempre estava falando do advogado. Não tenho nada contra o Treze, muito pelo contrário, é um time grande. Mas esse advogado (George Ramalho) faz um inferno contra mim. Eu tenho 67 anos e não tenho nada a ver com essa Operação Cartola – falou Lionaldo.
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