Alguma vez na vida você já deve ter visto uma pessoa se coçar e ter reações não comuns ao tocar em um animal. E a explicação para isso é bastante diversa, mas, basicamente, trata-se de dermatites desencadeadas pelo contato da pele com substâncias que causam irritação ou despertam mecanismos alérgicos. Há diversas substâncias que causam isso, para além das relacionadas ao contato com animais. E, nesse caso, o epitélio do animal, o pelo, a saliva ou a urina podem despertar esses quadros.
Após esse contato, pode-se ter lesões muito pruriginosas. Segundo a médica dermatologista Joanne Ferraz, professora doutora do curso de Medicina do Unipê, as lesões podem ser avermelhadas, elevadas e edemaciadas, denominadas de “urticas” (quadro chamado de urticária de contato), ou podem surgir lesões eczematosas pruriginosas, avermelhadas e descamativas.
A urticária de contato, por sua vez, representa um tipo especial de dermatite de contato, provocado pelas proteínas presentes no pelo, na saliva ou na urina dos animais. “A urticária de contato surge, em geral, dentro de 30 minutos após a exposição, perdurando por algumas horas, e pode ter outros desencadeantes, como o contato da pele com algumas plantas ou com certos alimentos e também com o látex. Ela pode ocorrer por mecanismos imunológicos ou não imunológicos”, acrescenta Joanne.
A dermatologista lembra que pessoas de pele sensível, como aquelas com dermatite atópica, são mais propensas a ter reações por meio de contato. A dermatite atópica é uma doença crônica inflamatória da pele em que existe uma fragilidade da barreira cutânea.
“Em algumas pessoas com dermatite atópica, o contato com o epitélio de animais de estimação pode desencadear lesões pruriginosas na pele. Contudo, em outros casos, o contato com animais pode funcionar como uma proteção para as crises da dermatite atópica, pois proporciona exposição a microrganismos que são capazes de regular a imunidade, auxiliando no controle da inflamação. Assim, o contato direto da pele com animais de estimação só deve ser evitado nos casos em que realmente se observa piora ou desencadeamento de lesões”, salienta Joanne.
Doença ocupacional
A depender do que se trabalha, é possível ter dermatites de contato quando a pele toca em substâncias presentes no ambiente ou nas atividades laborais. E quando se trata de dermatite de contato devido ao toque em animais, pessoas que cuidam ou convivem com animais, incluindo médicos veterinários ou trabalhadores de laboratórios, podem apresentar as inflamações.
“No entanto, essa ocorrência também depende de características individuais, como idade do indivíduo, integridade da barreira cutânea, condições locais da pele e fatores genéticos”, comenta Joanne.
Por fim, em casos de aparente reação alérgica após o contato com algum animal, é importante que tutores ou a pessoa que teve esse contato busque orientação profissional (e não abandone animais de estimação, quando for o caso). No Brasil, o abandono de animais é crime desde 1998, de acordo com a Lei Federal 9.605. Em 2020, com a aprovação da Lei Federal 14.064, teve-se o aumento da pena de maus-tratos com reclusão de dois a cinco anos, multa e proibição da guarda, quando se tratar de cão ou gato.
Portal Correio