Em reunião esvaziada nesta sexta-feira (30) em Brasília, a cúpula do PT entra em debate dividida quanto aos rumos do partido e a extensão da autocrítica que deve ser feita após a derrota na eleição presidencial.
Com divergências que vão desde a data do encontro do Diretório Nacional —considerada prematura, somente um mês após o segundo turno— até o prognóstico que deve ser adotado pela sigla frente ao governo Jair Bolsonaro (PSL), dirigentes ouvidos pela Folha avaliam que a resolução desta semana deve ser incipiente e bastante tímida.
Na opinião desses petistas, era preciso mais tempo para decantar resultados e fazer um diagnóstico mais claro do novo cenário político e, principalmente, sobre o papel que o PT vai ter na oposição daqui para frente.
O comando da legenda tem sido cobrado por correntes mais à esquerda e também por aliados a fazer uma autocrítica alentada sobre os erros dos últimos anos, mas resiste em executá-la de forma pública.
Sem a presença de Fernando Haddad (PT), que está nos Estados Unidos para debater o cenário político do Brasil, o PT deve divulgar um texto final neste sábado (1º) com avaliação do resultado eleitoral e as novas estratégias do partido.
No encontro participam a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, o senador eleito pela Bahia, Jaques Wagner, a ex-presidente Dilma Rousseff, entre outros. O governador do Piauí, Wellington Dias, chegou ao local por volta das 9h30 desta sexta e saiu antes do término da reunião —que atrasou quase uma hora e meia. As bancadas do PT na Câmara e no Senado também não tinham todos os seus integrantes presentes.
Versão preliminar do documento obtida pela Folha tem 74 itens e cita a política econômica liberal do governo Dilma a partir de 2015 e a perda de espaço para o que chamam de extrema direita como causas da derrota de outubro.
Segundo o texto, que ainda deve sofrer alterações, o partido não soube combater a pecha de “corrupto” e frear a onda conservadora que conquistou “corações e mentes” nos últimos anos.
Petistas de diversas tendências formaram uma comissão para a elaboração da carta e, portanto, ela é considerada aglutinativa, e não final. Setores mais à esquerda do partido já apresentaram novos textos e emendas para serem costurados ao documento final, mas temem que ele fique genérico e pouco contundente.
Acreditam, por exemplo, que não é suficiente se ater ao segundo mandato de Dilma –que culminou no impeachment– como a causa de todos os problemas do PT e que é preciso listar também erros da campanha de Haddad.
Entre o primeiro e o segundo turno, petistas admitiram que foi um equívoco menosprezar Bolsonaro de início e reclamaram dos chamados acenos ao centro que Haddad fez ao mercado e aos políticos.
No documento, são lembrados a redução da presença do ex-presidente Lula na campanha e eliminação do programa de governo de bandeiras como o duplo mandato do Banco Central —ao qual Haddad sempre foi contrário—, além dos elogios à Lava Jato feitos pelo ex-prefeito de São Paulo às vésperas do segundo turno. Os pontos, porém, ainda não são consensuais, e podem ficar de fora da carta final.
De acordo com aliados, Gleisi é uma das que querem pressa nos prognósticos e avaliações. Ela já havia convocado uma reunião da Executiva Nacional do PT um dia após o segundo turno, o que irritou dirigentes.
Publicamente, Gleisi tem defendido Haddad como uma liderança do partido, mas em reuniões internas faz críticas à condução de sua campanha —da qual ela participou pouco— e ao afastamento da legenda das bases.