O alerta dos tempos de infância de não nadar até uma hora depois de comer, aparentemente para evitar cãibras, já não é mais suficiente para mim. Agora tenho que esperar pelo menos duas horas antes de tentar qualquer atividade mais vigorosa ou tarefas que envolvam curvar-me. Isso para para evitar a sensação horrorosa do refluxo ácido, comumente conhecida pelo mais comum de seus sintomas, a azia.
Também descobri que um ingrediente preferido do café da manhã, manteiga de amendoim, é especialmente problemática, além do peixe defumado, do arenque em conserva ou de café coado com o estômago vazio.
Qual a incidência do refluxo?
O refluxo está entre as queixas de saúde mais frequentes dos adultos americanos e pode ter se tornado ainda mais comum após o estresse relacionado à pandemia e ao ganho de peso. No final do ano passado, as farmácias relataram uma corrida sem precedentes pelos antiácidos por pessoas que descreveram estar sofrendo com um “estômago pandêmico”, deixando desabastecidos aqueles com doenças graves que precisavam daqueles medicamentos.
Mesmo antes da pandemia, uma pesquisa online de 2019 com mais de 71 mil adultos descobriu que quase um terço relatou que eles eram acometidos ao menos uma vez por semana pelos sintomas desconfortáveis de refluxo, quando uma pequena quantidade do conteúdo do estômago inverte seu curso e retorna no esôfago.
Quais são os sintomas do refluxo?
Os sintomas comuns incluem uma sensação de queimação no peito, sensação de um nó na garganta, arrotos, inchaço e regurgitação na boca de alimentos altamente ácidos e parcialmente digeridos do estômago. O refluxo também pode afetar o trato respiratório, resultando em rouquidão, sibilos, gotejamento pós-nasal, tosse ou ataques de asma.
Mas o refluxo ácido persistente é mais do que apenas irritante. Se ocorrer com muita frequência e persistir por muito tempo, pode corroer o revestimento do esôfago e aumentar o risco de desenvolvimento de um câncer mortal chamado adenocarcinoma esofágico.
Veja 5 maneiras de reduzir o risco de refluxo
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Harvard relatou recentemente que muitas pessoas poderiam evitar esse sofrimento ao aderir a um estilo de vida “anti-refluxo”. Os pesquisadores analisaram pesquisas periódicas de saúde ao longo de 12 anos com mais de 40 mil enfermeiras e identificaram cinco características de estilo de vida que ajudaram a manter o refluxo ácido sob controle.
Quanto mais o estilo de vida foi colocado em prática, menor o risco de desenvolver DRGE, a sigla popular para “doença do refluxo gastroesofágico”, a forma mais persistente e potencialmente grave de refluxo ácido.
Seguir todos os cinco comportamentos abaixo reduziu em 37% o risco geral de desenvolver sintomas de DRGE.
1. Mantenha um peso corporal saudável
Uma análise da literatura médica conduzida pelo médico Jesper Lagergren do Instituto Karolinska de Estocolmo, na Suécia, descobriu que a DRGE afetou 22% das pessoas que foram classificadas como obesas, em comparação com cerca de 14% daquelas que não eram obesas.
Depois de comer, um esfíncter muscular na parte inferior do esôfago se abre para permitir que o alimento entre no estômago e se fecha para evitar que ele mude de direção. Um abdômen superdimensionado pode colocar pressão excessiva neste esfíncter e pode impedir que ele se feche quando deveria, permitindo que o conteúdo ácido do estômago vaze para o esôfago.
2. Não fume
A equipe de Lagergren descobriu ainda que o tabaco pode estender o tempo que leva para os alimentos ácidos saírem do esôfago. Em uma análise de 30 estudos, a DRGE afetou cerca de 20% dos fumantes em comparação com cerca de 16% dos não fumantes.
3. Faça exercício físico
Aqueles que se engajaram em atividades físicas moderadas a vigorosas por pelo menos 30 minutos por dia eram menos propensos a desenvolverem sintomas de DRGE, relatou a equipe de Harvard.
4. Reduza café, chá e refrigerantes
O risco de DRGE foi reduzido entre aqueles que consumiam no máximo duas xícaras de café, chá ou refrigerante por dia.
5. Siga uma dieta saudável para o coração
Aqueles que seguiram uma dieta de estilo mediterrâneo, por exemplo, com frutas e vegetais, legumes, peixes, aves e grãos inteiros, mas com pouca ou nenhuma carne vermelha ou outras fontes de gorduras saturadas, eram menos propensos a desenvolver refluxo ácido.
A genética também pode influir no risco de desenvolvimento de refluxo, portanto pessoas com histórico familiar com o problema precisam se proteger ainda mais para evitar os riscos destacados acima.
Isso também ajudará a protegê-las contra as principais causas de morte, como doenças cardíacas, diabetes e muitas formas de câncer.
Como atenuar os sintomas
Se você já sofre de refluxo, há muitas medidas que você pode tomar para minimizar os sintomas e talvez evitá-los totalmente.:
- Em vez de consumir refeições grandes, coma menores com mais frequência;
- Minimize os alimentos gordurosos e evite totalmente alimentos fritos e fast food.
- Opte por uma “air fryer”para obter uma pele crocante no frango, por exemplo (embora eu prefira frango grelhado e sem a pele).
- Escolha carnes magras (se você comer carne) e laticínios com baixo teor de gordura ou desnatados.
- Evite comer três horas antes de se deitar.
- Além disso, tente dormir como se estivesse reclinado, com a cabeceira da cama apoiada em uma posição mais alta do que os pés.
Os alimentos que muitas pessoas com DRGE consideram mais irritantes incluem tomates e frutas cítricas (como laranja e toranja) e seus sucos, café (até descafeinado para algumas pessoas), bebidas alcoólicas e carbonatadas (tipo refrigerante e água saborizada), alimentos picantes, alho, chocolate e menta. Há muito tempo, mudei para o suco de laranja com baixo teor de ácido, consumindo apenas alguns gramas por dia para dissolver um suplemento de fibra. Também descobri que o café instantâneo é menos irritante do que o fermentado, e bebo este último apenas com comida para ajudar a proteger meu trato digestivo.
Para conter um ataque ocasional inesperado de azia, muitas pessoas usam um antiácido de ação rápida como o Tums (carbonato de cálcio) para ajudar a neutralizar o ácido estomacal. Um remédio mais moderno, um bloqueador do receptor H2 como Pepcid (famotidina), pode aliviar os sintomas em cerca de 20 minutos, bloqueando os receptores de histamina no estômago que desencadeiam a produção de ácido.
Mas quem sofre de refluxo crônico pode encontrar alívio mais eficaz com medicamentos chamados inibidores da bomba de prótons, ou IBP, que interrompem a produção de ácido no estômago. Marcas populares, vendidas sem receita e em doses mais altas por prescrição, incluem Nexium (esomeprazol), Prevacid (lansoprazol) e Prilosec (omeprazol). Eles estão entre os medicamentos mais vendidos do país.
No entanto, como qualquer medicamento, os remédios que combatem o refluxo podem ter efeitos colaterais, portanto pode ser necessária uma estratégia de tentativa e erro para encontrar um produto que funcione melhor para você.
Além disso, os medicamentos devem ser usados apenas pelo tempo necessário para controlar os sintomas. Tomados no longo prazo, foram associados a um pequeno aumento do risco de desenvolver complicações graves, incluindo doença renal, osteoporose, câncer de estômago, infecção pela bactéria Clostridium difficile e até pneumonia.
Portanto, sua melhor aposta para evitar ou controlar o refluxo ácido pode ser combinar os fatores de estilo de vida descritos acima com um ciclo de medicação prescrita pelo médico pelo curto período de tempo necessário.
FONTE: O Globo