X pode ser bloqueado no Brasil; entenda

Após o X (ex-Twitter) anunciar o fechamento de seu escritório no Brasil, o corpo jurídico do X, em reuniões realizadas com executivos da empresa no Brasil e nos Estados Unidos, alertou para a possibilidade de a rede social ser bloqueada no País.

Segundo informações do jornalista Caio Junqueira, da CNN, o motivo seria o descumprimento da ordem dada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para o bloqueio de sete perfis na plataforma.

X vai ser banido do Brasil?

  • Apesar da ordem do ministro, a empresa resolveu não cumpri-la;
  • Para evitar prisão de seus representantes legais no Brasil e multas, optou por fechar seu escritório no País e, consequentemente, demitir todos os seus colaboradores daqui;
  • No fim da tarde de sábado (17), o X protocolou petição ao STF, na qual informação que não poderia cumprir tal ordem, pois não tinha mais representantes legais no Brasil;
  • Até o momento, Moraes não se manifestou oficialmente sobre a petição;
  • As reuniões entre os executivos e o corpo jurídico da empresa foram realizadas durante o fim de semana, onde o aviso de possível bloqueio após o descumprimento da ordem foi feito.
À esquerda, perfil do X na App Store, projetado em um smartphone; À direita, antigo logo do Twitter, o pássaro azul (no cado, branco em fundo azul-claro)
Rede social tem problemas com o Brasil desde que foi comprada por Elon Musk (Imagem: bluecat_stock/Shutterstock)

Márcio Chaves, advogado e professor especialista em Direito Digital, explicou ao Olhar Digital quais as consequências da decisão da empresa de deixar o Brasil.

A própria decisão em si de sair do País traz duas grandes consequências. Primeiro, é a empresa dizer que por não ter operação aqui no Brasil fica difícil, ela ter até mesmo ingerência sobre o que está sendo decidido, em termos de operação da empresa, sobre o que deve e o que não pode fazer, mas, principalmente, com a saída da operação aqui no Brasil, aquela medida de ordem de prisão, no caso de descumprimento de uma ordem judicial, também fica de fora. Você não pode mais responsabilizar aquele que está representando a empresa no país. Então, acaba sendo mais uma jogada no tabuleiro entre essa disputa e que certamente vai aquecer bastante esse embate judicial.

Márcio Chaves, advogado e professor especialista em Direito Digital, em entrevista ao Olhar Digital

O especialista também apontou quais os próximos passos que a Justiça brasileira pode dar após o ocorrido:

“O que está previsto na nossa legislação, em especial no marco civil da internet, é você não só suspender, ou seja, impedir o acesso temporário, quanto bloquear, ou seja, impedir até uma segunda ordem no caso de você violar uma legislação brasileira, aqui no caso, mas que, claro, depende de todo um processo administrativo, com direito à defesa, que é o que deve acontecer nesse mesmo processo ali do inquérito que está sendo investigado.”, disse.

A realidade é que, sim, existe uma possibilidade de bloqueio, e esse bloqueio nem vai ser uma grande novidade. A gente já passou por bloqueios anteriores, envolvendo principalmente comunicador instantâneo, do WhatsApp em algumas oportunidades, 2012, 2016 e, recentemente, inclusive, então, é realidade, é possível sim você ter esse bloqueio, que não significa necessariamente o impedimento de a operação de acontecer aqui no Brasil.

Márcio Chaves, advogado e professor especialista em Direito Digital, em entrevista ao Olhar Digital

Chaves complementou: “o serviço continua sendo ofertado pela internet e esse bloqueio acontece junto ao provedor de aplicação, ou seja, as telecoms, e dificulta bastante aquele que tenta acessar a plataforma, mas não impede esse acesso, porque você sempre tem a possibilidade técnica de conectar utilizando uma VPN nessas redes privadas que não estão vinculadas a essas operadoras, não passam o fluxo de dados pelas operadoras aqui no Brasil.”

Musk/X vs. STF

Não é de agora a rixa entre a rede social, seu dono, Elon Musk, o STF e Alexandre de Moraes. Desde o início das investigações dos atos golpistas contra a capital federal, tentados em 8 de janeiro de 2023.

Por diversas vezes, o STF fez solicitações à rede social para derrubar perfis que teriam envolvimento na tentativa de golpe e outros crimes, como de ódio, por exemplo. Todas elas foram determinadas por Alexandre de Moraes.

Isso irritou Musk, que já fez várias críticas, em seu perfil na plataforma, ao STF e a Moraes, chegando a insinuar que o ministro estaria impondo censura. Por vezes, Moraes chegou a responder o empresário sul-africano.

O X já descumpriu várias dessas determinações, sendo que já chegou, inclusive, a reativar perfis que o STF tinha feito a rede social desativar.

Só que os problemas que envolvem a empresa não se restringem apenas ao Brasil.

Desde que foi adquirido por Musk em abril de 2022 (processo concluído em outubro do mesmo ano), o antigo Twitter passou por muitas reformulações polêmicas, que envolveram desde a mudança de nome e logo, até a demissão em massa de funcionários em todo o mundo, o que, segundo especialistas, comprometeu a segurança da plataforma, especialmente, no que tange a moderação de conteúdo ofensivo.

 

À esquerda, rosto de ElonMusk em preto e branco; à direita, logo do X em fundo preto projetado em um smartphone
Elon Musk vem travando embates com o STF há meses(Imagem: Kemarrravv13/Shutterstock)

Em outros países, especialmente nos EUA, Musk mandou reativar perfis que foram bloqueados pela antiga administração da empresa, como a do ex-presidente dos EUA Donald Trump, e outros que foram derrubados por atitudes e falas polêmicas. Trump, inclusive, foi entrevistado por Musk no X na semana passada.

Outra modificação contestada foi passar a cobrar pelo selo de autenticidade (azul) e derrubá-lo de perfis importantes, como de governos nacionais e instituições de importância mundial.

A empresa acabou reorganizando a verificação, mas cobra por esse e outros serviços, em três planos, que vão de R$ 19,99 até R$ 109,99, e incluem o Grok, inteligência artificial (IA) generativa em construção da xAI, companhia de IA de Elon Musk.

O Grok se “destaca” por ser mais “desinibido” que rivais, como o ChatGPT, Claude e Copilot, que não respondem a determinados assuntos “espinhosos”.

Em outros países, como EUA e União Europeia (UE), o X também vem sofrendo com diversos processos dos mais variados temas, especialmente por perfis que contém discursos de ódio.

Olhar Digital